A busca pelo equilíbrio entre corpo e mente é uma aspiração universal, mas raramente concretizada. Em um mundo habitado por bilhões, alcançar essa harmonia parece um privilégio reservado a poucos. Contudo, há quem, por meio de dedicação e prática, transcenda a ordinariedade e toque o extraordinário. Um praticante devoto do tai chi, sob a tutela de um mestre idoso em um templo sereno, vê sua rotina transformada por eventos inesperados que colocam à prova não apenas sua arte, mas sua essência. É nesse contexto que Keanu Reeves, conhecido por sua presença icônica nas telas, assume um novo papel como diretor em “O Homem do Tai Chi”. O longa combina elementos de filme de arte e ação comercial, explorando temas profundos como livre-arbítrio, tradição, amor e mortalidade.
O roteiro de Michael G. Cooney acompanha a trajetória de Tiger Chen, interpretado com autenticidade por Tiger Hu Chen, um dublê que compartilha uma longa história profissional com Reeves desde os tempos de “Matrix”. Chen, inicialmente um humilde entregador que se desloca pela cidade em seu carro, parece resignado a uma rotina comum. Contudo, sua habilidade no tai chi o conduz a um destino singular. A narrativa ganha intensidade com a introdução de Donaka Mark, um enigmático magnata vivido por Reeves. Donaka oferece a Tiger uma oportunidade que promete riqueza e glória, mas que rapidamente se revela uma armadilha moral e espiritual.
O mentor Yang, interpretado pelo experiente Yu Hai, alerta Tiger sobre os perigos de buscar reconhecimento ou ganhos materiais através do tai chi. Apesar disso, a tentação do desconhecido leva o protagonista a uma jornada que o distancia dos ensinamentos do mestre. Uma demonstração pública de sua arte chama a atenção de Donaka, que, com sua presença soturna e controle calculado, convida Tiger para integrar seu mundo sombrio. A relação entre os dois se desenvolve em uma tensão constante, enquanto o protagonista enfrenta dilemas éticos e descobre as consequências de suas escolhas.
Reeves utiliza enquadramentos ousados e diálogos carregados de filosofia para conduzir a trama, elevando “O Homem do Tai Chi” de uma simples narrativa de ação para um suspense introspectivo. O ápice ocorre no templo de Ling Kong, um espaço sagrado com séculos de história que agora se encontra ameaçado pela especulação imobiliária. É nesse cenário de conflito entre tradição e modernidade que Tiger enfrenta seus maiores desafios, tanto externos quanto internos.
O desfecho, embora permeado por ação e reviravoltas, não descarta o crescimento pessoal do protagonista. Tiger, ao decidir abrir uma escola de tai chi, retoma os valores que quase perdeu, abraçando a essência de sua prática. Enquanto traça um novo caminho, ele reflete sobre a importância de estar atento às influências que moldam sua jornada, sem perder de vista os ensinamentos de seu mestre. Reeves entrega um filme que, além de entreter, convida à reflexão sobre escolhas, disciplina e autoconhecimento, solidificando sua estreia como diretor com uma obra que transcende o convencional.
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