Poucas histórias no universo esportivo conseguem aliar o fascínio pela superação humana a uma jornada tão visceral quanto a de Diana Nyad, retratada no longa-metragem “Nyad”. Dirigido por Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhely, o filme se apoia em atuações memoráveis de Annette Bening e Jodie Foster, oferecendo uma narrativa que transborda intensidade emocional e resistência física. Escrito por Julia Cox, com supervisão da própria Diana, o roteiro captura a essência de uma trajetória marcada por desafios extremos e uma determinação implacável. Aos 64 anos, Diana concluiu uma das travessias mais desafiadoras da história: nadar 177 quilômetros de mar aberto entre Havana, Cuba, e Key West, na Flórida. Um feito monumental que transcende o esporte e redefine os limites do corpo humano.
Enfrentar o Atlântico em toda sua imprevisibilidade foi uma batalha monumental. Salinidade corrosiva, correntes traiçoeiras, ventos insistentes, criaturas marinhas ameaçadoras e tempestades implacáveis se uniram contra Diana. No entanto, talvez o maior obstáculo estivesse dentro dela: o constante embate com os limites do corpo e da mente. A travessia lhe trouxe dores musculares paralisantes, hipotermia, alucinações, desidratação severa e uma exaustão que testaria qualquer mortal. Mesmo assim, ela persistiu. Esse recorde não é apenas sobre força física; é um tributo à resiliência humana. Os atletas são, afinal, espécies de semideuses modernos, desafiando os limites do que acreditamos ser possível.
A paixão de Diana por Cuba começou cedo, alimentada por uma visão quase romântica do país. Esse fascínio motivou sua primeira tentativa de atravessar o mar antes dos 30 anos. Fracassada a empreitada, ela abandonou o esporte e se reinventou como jornalista esportiva. Diana escreveu quatro livros, colaborou com grandes publicações como The New York Times, NPR e Newsweek, e deixou sua marca na televisão através do programa “Sunday Morning”, da CBS. Mas, apesar das conquistas, algo permaneceu inquieto em seu interior. Trinta anos depois, enfrentando uma crise existencial, ela percebeu que precisava concluir a jornada que a definia.
Com o apoio de Bonnie Stoll, sua melhor amiga e ex-companheira, Diana retomou o sonho aos 60 anos. Bonnie, ex-atleta profissional de raquetebol, assumiu o papel de treinadora e ajudou a montar uma equipe especializada para a travessia. Juntos, eles enfrentaram desafios logísticos e desenvolveram soluções criativas, como o uso de luzes vermelhas para afastar tubarões e outros perigos marítimos – embora nem sempre eficazes. Diana também tomou uma decisão ousada: dispensou a gaiola de proteção, optando por uma experiência ainda mais desafiadora e autêntica.
As quatro primeiras tentativas fracassaram, cada uma mais perigosa que a anterior. A equipe, incluindo Bonnie, chegou a questionar a viabilidade do sonho, temendo pela vida de Diana. Mas ela permaneceu firme. Após cinco anos de intensos treinamentos e ajustes estratégicos, Diana finalmente conquistou o impossível. Em 2013, aos 64 anos, tornou-se a primeira pessoa a completar a travessia sem o uso de uma gaiola de proteção contra tubarões.
“Nyad” é mais do que um relato de persistência; é um mergulho profundo na psique humana, nas motivações que impulsionam alguém a desafiar o inalcançável. Annette Bening entrega uma interpretação magistral como Diana, capturando cada nuance de sua complexidade emocional. Jodie Foster, como Bonnie, traz uma combinação perfeita de suporte e vulnerabilidade, criando uma dinâmica que é o coração do filme. A direção de Chin e Vasarhely é igualmente impecável, transformando cenas de tensão e superação em uma experiência visceral para o espectador.
Cotado para o Oscar, o longa é tecnicamente irrepreensível, com fotografia, edição e trilha sonora que amplificam a intensidade da narrativa. “Nyad” não é apenas uma celebração de um feito extraordinário; é um convite à reflexão sobre os limites que nos impomos e a força necessária para superá-los. Um filme que inspira, desafia e emociona, deixando marcas profundas em quem o assiste.
★★★★★★★★★★
