Comédia levinha levinha, com Jennifer Aniston e Julia Roberts, vai trazer mais leveza para sua alma que uma sessão de ioga, na Netflix Ron Batzdorff / Open Road Films

Comédia levinha levinha, com Jennifer Aniston e Julia Roberts, vai trazer mais leveza para sua alma que uma sessão de ioga, na Netflix

Após superarem as inquietações iniciais da maternidade – desde os desafios fisiológicos do início da infância até as angústias da adolescência e, finalmente, as incertezas da vida adulta dos filhos – muitas mães sonham com um momento de sossego. A promessa de finalmente se dedicarem a si mesmas parece plausível, mas a realidade raramente se alinha a essa expectativa. Em “O Maior Amor do Mundo”, último filme de Garry Marshall, essa dinâmica familiar ganha um olhar empático, embora irregular, explorando como a maternidade (e a paternidade) molda os comportamentos e conflitos de seus personagens.

Marshall, conhecido por seu talento em abordar as complexidades de pessoas comuns, entrega aqui uma narrativa que tenta equilibrar humor e drama. O filme investiga como relações familiares muitas vezes ocultam ressentimentos profundos, e até que ponto esses laços são inevitavelmente marcados por imperfeições. Inspirando-se na famosa máxima de Tolstói sobre famílias felizes e infelizes, o roteiro — desenvolvido por Marshall e outros quatro colaboradores — reflete sobre a singularidade das tragédias individuais, grandes ou pequenas, enquanto propõe que cada um encontre uma forma de lidar com os rancores inevitáveis que surgem nos ambientes familiares.

Um dos exemplos mais emblemáticos do longa é Sandy, interpretada por Jennifer Aniston, uma mulher de meia-idade que tenta se reinventar após o fim de seu casamento. Sua vida é abalada quando seu ex-marido, Henry (Timothy Olyphant), decide se casar com Tina (Shay Mitchell), uma mulher mais jovem e aparentemente perfeita. Sandy, apesar de sua aparente autossuficiência, luta contra o ciúmes e o medo de ser substituída na vida dos filhos. Aniston se destaca no papel, trazendo uma interpretação autêntica que ofusca outros nomes de peso no elenco, incluindo Julia Roberts, que, infelizmente, não tem um material à altura de seu talento para brilhar.

Roberts interpreta Miranda Collins, uma apresentadora de televisão e escritora de best-sellers, que se afastou da filha em prol de sua carreira. Quando Kristin (Britt Robertson), sua filha, decide procurá-la, Miranda enxerga inicialmente a situação como uma oportunidade para alavancar sua imagem pública. Esse arco narrativo tinha o potencial de explorar a superficialidade das relações impostas pela fama, mas a abordagem do filme dilui a profundidade da história em função de sua busca por apelo popular.

Apesar das intenções claras de Marshall em oferecer uma narrativa leve e acessível, o excesso de subtramas compromete a coesão do filme. A intenção de abarcar múltiplos núcleos familiares resulta em uma narrativa fragmentada, que não consegue aprofundar-se em nenhum deles. Em particular, a característica peruca chanel ruiva de Miranda, que poderia simbolizar a artificialidade de suas escolhas, acaba sendo um elemento visual subutilizado, perdendo a oportunidade de criar um impacto mais significativo.

Embora o título sugira uma homenagem grandiosa à maternidade, o filme funciona melhor quando lido como uma ironia. A complexidade das mães — e dos pais — não é idealizada aqui, mas tampouco explorada com a profundidade necessária para um retrato mais autêntico. Marshall, em sua despedida do cinema, opta por um tom conciliador, mas não deixa de sugerir que aceitar a imperfeição é parte do desafio de ser humano. Infelizmente, sua escolha por uma abordagem abrangente demais enfraquece o impacto de uma história que, se concentrada em menos personagens e conflitos, poderia ter sido mais memorável.

“O Maior Amor do Mundo” é uma despedida melancólica de um diretor que sempre buscou capturar a ternura nas relações humanas, mesmo quando imperfeitas. Apesar de suas falhas narrativas, o filme deixa uma reflexão relevante: as conexões familiares, por mais complicadas que sejam, permanecem centrais na vida de todos. Marshall nos lembra que, no caos das relações humanas, ainda há espaço para o amor, mesmo que imperfeito.

Filme: O Maior Amor do Mundo
Diretor: Garry Marshall
Ano: 2016
Gênero: Comédia/Romance
Avaliaçao: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★