O sobrenatural, com sua aura enigmática, permanece como uma fonte inesgotável de inspiração para narrativas de terror e suspense. Em “Rogai Por Nós”, filme dirigido e roteirizado por Evan Spiliotopoulos, inspirado no livro “Santuário”, de James Herbert, somos conduzidos a um pequeno vilarejo em Massachusetts, onde a linha entre o divino e o profano é perigosamente têmpera. A história se concentra em Gerry Fenn (Jeffrey Dean Morgan), um jornalista desacreditado que busca uma matéria rotineira, mas encontra um enredo muito mais perturbador.
Alice (Cricket Brown), uma adolescente surda-muda criada pelo tio, o Padre Hagan (William Sadler), afirma ter visões da Virgem Maria e, para surpresa de todos, começa a realizar milagres. A transformação da jovem é atribuída a uma misteriosa árvore secular presente na cidade. Repentinamente, Alice recupera a fala e a audição, e sua história viraliza, atraindo uma multidão de fieis e curiosos. Em paralelo, o Padre Hagan recorre ao bispo Gyles (Cary Elwes) e ao sacerdote Delgarde (Diogo Morgado) para investigarem os eventos extraordinários que parecem desafiar a racionalidade.
A ascensão de Alice ao status de ícone espiritual oferece a Gerry uma oportunidade de reerguer sua carreira. Marcado por um passado controverso e relegado a coberturas irrelevantes, ele enxerga na jovem um passaporte para voltar aos holofotes, mesmo que para isso precise explorar sua recente fama. Entretanto, à medida que a narrativa avança, Gerry é confrontado por questões morais e pela própria natureza dos acontecimentos. O ceticismo do Padre Hagan, aliado a seus questionamentos sobre a autenticidade dos milagres, incita a fúria de forças malignas que se alimentam da dúvida — inimiga natural da fé cega.
O filme propõe uma reflexão sobre fanatismo religioso e as armadilhas da crença irrefletida, sugerindo que o demônio pode manipular a espiritualidade alheia para seus próprios propósitos. A entidade que usa Alice como intermediária é revelada gradualmente: uma jovem que, apsó ser queimada em uma fogueira, renasce no mundo sobrenatural como um emissário do diabo. Embora a premissa seja intrigante, o desfecho decepciona, com efeitos visuais aquém do esperado e uma abordagem que pouco impacta.
As filmagens, realizadas sob as restrições impostas pela pandemia de Covid-19, exigiram adaptações que, apesar de compreensíveis, comprometeram o resultado final. Ainda assim, é importante reconhecer o esforço da equipe em concluir o projeto em um período tão desafiador.
Jeffrey Dean Morgan entrega uma performance sólida, trazendo um grau de profundidade a um protagonista que, infelizmente, é limitado por um roteiro que falha em explorar todo o seu potencial. Seu talento é insuficiente para compensar a falta de suspense e de um desenvolvimento mais elaborado. “Rogai Por Nós” pode oferecer algum entretenimento para os entusiastas do gênero, mas é incapaz de deixar uma marca duradoura no público, destacando-se mais por suas lacunas do que por seus méritos.