Liam Neeson reafirma seu lugar como um dos grandes nomes de Hollywood na arte de interpretar figuras duras, mas intrigantemente humanas. Em “Agente das Sombras”, dirigido por Mark Williams, o astro de “Busca Implacável” (2008-2014) e “A Chamada” (2023), demonstra mais uma vez sua habilidade em explorar personagens marcados pela tensão entre o heroísmo e a fragilidade. Apesar de repetir uma fórmula que lhe é familiar, Neeson imprime uma energia peculiar à trama, transformando o previsível em algo que ainda prende a atenção. O roteiro, assinado por Williams em parceria com Nick May e Brandon Reavis, não foge ao clichê de espionagem, mas entrega uma narrativa polida, enriquecida por um elenco de coadjuvantes que adicionam camadas de humanidade ao enredo.
No centro da trama está Travis Block, um veterano do FBI que, após uma longa carreira no combate ao crime, descobre estar cercado por interesses escusos dentro da própria agência. A premissa se desdobra com a introdução de uma arma de precisão, um símbolo da busca de Block por justiça em meio à desilusão. A narrativa ganha força ao introduzir Sofia Flores, uma deputada progressista ameaçada por um atentado em Washington. Mel Jarnson, que interpreta Sofia, traz intensidade a uma personagem que evoca figuras reais como Gabrielle Giffords, ex-parlamentar democrata que sobreviveu a um ataque brutal em 2011. Esse paralelismo é uma estratégia evidente de Williams para contextualizar a história em um cenário político reconhecível, mas sem descambar para a panfletagem.
Travis Block, por sua vez, é uma construção meticulosa que remete a Travis Bickle, o icônico protagonista de “Taxi Driver” (1976). Assim como Bickle, Block é um homem marcado pela violência e pela ambiguidade moral. Contudo, o que diferencia Block é sua busca por redenção através de laços familiares. Suas interações com Natalie, sua neta, dão ao filme um contraponto emocional que suaviza o ritmo de tensão constante. As cenas entre Block e Natalie são permeadas por uma ternura discreta, mas poderosa, mesmo quando presentes singulares como uma lanterna com taser embutido revelam a personalidade pragmática do avô. Gabriella Sengos, no papel de Natalie, e Claire van der Boom, como Amanda, mãe da menina, entregam performances que acrescentam profundidade a esse núcleo familiar.
No entanto, nem tudo é harmonia na narrativa. A relação entre Block e Gabriel Robinson, vivido por Aidan Quinn, carece do vigor presente no restante do filme. A dinâmica entre o agente veterano e o diretor do serviço secreto americano é funcional, mas não chega a transcender a função de mover o enredo adiante. Ainda assim, o carisma de Neeson e a direção precisa de Williams mantêm o espectador envolvido, mesmo quando a trama se apoia em soluções previsíveis.
“Agente das Sombras” é, acima de tudo, um filme de entretenimento que não se propõe a reinventar o gênero, mas que encontra seus pontos de brilho na atuação de seu elenco e na competência técnica de sua execução. Williams demonstra um claro entendimento dos elementos que tornam esse tipo de história atraente, equilibrando a ação com momentos de reflexão. E, embora o filme não seja uma obra-prima, sua capacidade de entreter é inegável, garantindo a Liam Neeson mais um papel que solidifica sua imagem como o anti-herói favorito de Hollywood.
★★★★★★★★★★