Recorde de audiência em 2024: thriller de ação visto por 42 milhões de espectadores na primeira semana de estreia na Netflix Divulgação / Netflix

Recorde de audiência em 2024: thriller de ação visto por 42 milhões de espectadores na primeira semana de estreia na Netflix

A pretensão de “Bagagem de Risco” em rivalizar com a longevidade e a intensidade de “Missão Impossível” (1996-2023) transparece desde o nome do protagonista, Ethan Kopek. Com um prenome que evoca inevitáveis comparações, Kopek parece destinado a ser uma sombra de Ethan Hunt, o agente intrépido e carismático que redefine o conceito de ação no cinema há quase três décadas. No entanto, enquanto Hunt se equilibra entre proezas acrobáticas e roteiros mirabolantes com orçamentos colossais, Kopek se mostra um protagonista tenso, carregando o peso de um enredo que não atinge o mesmo impacto ou sofisticação.  

Ethan Hunt, conhecido por desafiar as leis da física e do bom senso, elevou “Missão Impossível” a um fenômeno cultural, com histórias que ultrapassam as duas horas regulamentares e continuam a reverberar no público. Já Ethan Kopek, em contraste, parece à beira do colapso ao enfrentar situações que deveriam, ao menos em tese, capturar o dinamismo do gênero. No filme de Jaume Collet-Serra, Kopek é um agente em treinamento da TSA, o órgão de segurança dos transportes nos EUA. Seu dilema surge quando um misterioso viajante o força a autorizar o embarque de um pacote suspeito em plena véspera de Natal, cenário ideal para uma trama de tensão crescente.  

Contudo, a execução fica aquém do potencial. Os roteiristas T.J. Fixman e Michael Green optam por dramatizar situações cotidianas de aeroportos como se fossem o prenúncio do apocalipse. Embora o caos dos feriados seja um terreno fértil para tensão narrativa, a abordagem exagerada transforma os eventos em uma caricatura, afastando-se da autenticidade que poderia prender o espectador.  

Taron Egerton e Jason Bateman, intérpretes competentes e experientes, conseguem injetar carisma e gravidade em um roteiro repleto de lacunas, mas nem mesmo sua atuação impecável pode mascarar os problemas estruturais. As duas horas de duração acabam evocando a irritação de uma viagem desgastante ao lado de uma criança inquieta que insiste em roubar o seu assento — uma metáfora pertinente para a experiência proporcionada pelo filme.  

No cerne do problema está a falta de um equilíbrio claro entre ação e profundidade emocional. Filmes de ação eficazes não se limitam a confrontos e perseguições; eles oferecem uma reflexão implícita sobre a condição humana. “Bagagem de Risco” tenta abordar a perda do prazer cotidiano em meio à angústia moderna, mas essa mensagem se dissolve em meio ao ritmo desigual e à falta de uma identidade narrativa forte.  

Apesar disso, há mérito em algumas escolhas visuais e na tentativa de Collet-Serra de capturar a claustrofobia de um aeroporto em ebulição. A premissa de um agente novato sendo manipulado para cometer um erro catastrófico possui nuances interessantes que poderiam ser melhor exploradas. Infelizmente, o resultado final carece da energia e da visão necessárias para transformar essa ideia em um thriller memorável.  

“Bagagem de Risco” é uma oportunidade perdida. A ambição de criar um sucessor digno de Ethan Hunt esbarra na execução inconsistente e na incapacidade de equilibrar tensão e substância. É um voo turbulento que, embora traga alguns momentos intrigantes, não consegue alcançar altitude suficiente para marcar presença no panorama dos thrillers modernos.

Filme: Bagagem de Risco
Diretor: Jaume Collet-Serra
Ano: 2024
Gênero: Ação/Thriller
Avaliaçao: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★