Já em 1936, Yasujiro Ozu, um dos grandes nomes do cinema japonês, demonstrava como o comprometimento pode transcender a limitação de recursos, entregando obras marcantes pela simplicidade e profundidade. “Filho Único” é seu primeiro longa com diálogos falados, um marco que aprofunda a abordagem de um tema crucial à cultura oriental: os desafios e sacrifícios da maternidade no contexto de uma sociedade em transformação. Ambientado no início do século 20, o filme revela as dificuldades enfrentadas por uma mãe solteira, operária de uma tecelagem, que abdica de seus melhores anos para garantir ao filho acesso à educação, apostando no sonho de um futuro melhor. O enredo retrata com sensibilidade a luta contra a pobreza, os dilemas éticos e as escolhas dolorosas que moldam as relações familiares.
Ozu expõe um ideal enraizado no imaginário japonês: o conceito de sucesso que transcende o mero acúmulo de riqueza. Esse princípio, reforçado pelo contexto de superação das adversidades da Segunda Guerra Mundial, permeia diversas produções orientais, incluindo obras contemporâneas como “A Sun” (2019), de Chung Mong-hong, e “Parasita” (2019), de Bong Joon-ho. Esses filmes compartilham uma visão moral que, embora distinta, reflete a universalidade dos conflitos humanos. Em “A Sun”, a narrativa de Mong-hong explora a complexidade das relações familiares e as consequências de escolhas individuais. O pai, A-Wen, diante dos atos criminosos de seu filho A-Ho, impõe uma punição severa, desencadeando uma crise familiar irreversível. O filme mistura drama e suspense, mergulhando na psicologia dos personagens enquanto revela os dilemas éticos e emocionais que os envolvem.
Chung Mong-hong aborda com maestria a dualidade entre controle e liberdade, elementos centrais no ethos oriental. A relação entre pai e filho, marcada por um histórico de expectativas frustradas e tragédias pessoais, reflete a luta interna por reconciliação e perdão. A estrutura narrativa de “A Sun” transita entre o drama familiar e o suspense, destacando o talento de Chung para criar uma trama envolvente e carregada de simbolismo. A história, ambientada em um Taiwan que equilibra tradição e modernidade, adota um olhar crítico sobre as tensões sociais e culturais que permeiam a região, abordando temas universais com uma perspectiva única. O resultado é um filme que dialoga tanto com os valores orientais quanto com as inquietações do público global, oferecendo uma experiência cinematográfica intensa e reflexiva.
Chung, ao evocar a metáfora do sol, nos lembra de que, embora sua luz seja imparcial, ela só alcança aqueles que se abrem para recebê-la. Assim, a narrativa nos convida a enfrentar nossas fraquezas e medos, reafirmando o poder transformador do livre-arbítrio. Com profundidade e autenticidade, “A Sun” evidencia que, apesar das barreiras culturais, os dilemas humanos transcendem fronteiras, revelando o cinema como um elo universal de compreensão e empatia.
★★★★★★★★★★