Sob uma estrutura permeada por músicas inesquecíveis do ABBA, o musical transportado por Phyllida Lloyd para o cinema abraça o desafio de transpor a magia dos palcos para as telas. Baseado no espetáculo idealizado por Catherine Johnson, estreado em Londres em 1999, o filme encapsula os maiores sucessos da icônica banda sueca, entre 1972 e 1982, para tecer uma narrativa que mistura nostalgia, humor e emoção. Em pouco mais de um mês, uma jovem mulher decide confrontar seu passado ao tentar identificar quem entre três homens pode ser seu pai, enquanto a mãe vive o embate entre a liberdade do presente e as memórias do passado. O resultado? Um deleite visual e sonoro que resgata os clássicos do grupo em uma celebração ritmada pelo enredo.
Para os não iniciados em musicais ou nos hits pop do ABBA, o formato pode soar exaustivo, com cenas costuradas por letras que exploram temas como amor, felicidade e sonhos. No entanto, o talento vocal e cênico do elenco, liderado por Meryl Streep, minimiza qualquer resistência. Em suas interpretações, as músicas ganham novos significados, conduzindo o público a uma experiência que transcende a previsibilidade. A jornada da protagonista e os dilemas de sua mãe convergem em momentos de pura leveza e carisma, consolidando o filme como uma experiência única, mesmo para aqueles que inicialmente duvidem de seu apelo.
A atmosfera solar da fictícia ilha de Kalokairi cria o palco perfeito para as histórias entrelaçadas de Donna e sua filha Sophie. Enquanto a jovem planeja um casamento, sua descoberta de um diário revela um passado inesperado: três homens que, em tempos diferentes, cruzaram o caminho de sua mãe e podem ser seu pai. A chegada deles ao resort, às vésperas da cerimônia, desencadeia uma série de encontros cômicos e emocionantes, que mesclam os vínculos do presente e as escolhas do passado. O choque de gerações e as tensões familiares são conduzidos com leveza e uma trilha sonora que conecta diferentes públicos.
Entre performances icônicas, destaque para Pierce Brosnan, que divide a cena com Streep em “SOS”, enquanto Colin Firth e Stellan Skarsgård oferecem o equilíbrio emocional da trama. Já o trio feminino composto por Julie Walters, Christine Baranski e Meryl Streep explora os dilemas e incoerências de suas personagens com maestria. Essa dinâmica garante que a narrativa transcenda a estrutura tradicional dos musicais, revelando-se como um tributo à resiliência feminina e à celebração das imperfeições que tornam as relações humanas tão únicas.
Com um roteiro que alterna entre momentos de comédia, romance e autodescoberta, o filme mantém um ritmo envolvente, sustentado pelo charme de seus personagens e pela habilidade da diretora em equilibrar humor e emoção. O reencontro com clássicos como “Dancing Queen” e “The Winner Takes It All” não é apenas um exercício nostálgico, mas uma forma de renovar seu impacto cultural, convidando novas gerações a descobrirem o poder da música como narrativa. Entre o brilho das melodias e a simplicidade da trama, reside um convite à celebração da vida, das escolhas e da conexão entre passado e futuro.
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