A brutalidade humana, frequentemente camuflada pela fina camada de civilização que desenvolvemos ao longo dos séculos, resiste como um resquício latente. Taylor Sheridan, em seu contundente trabalho como roteirista e diretor, explora as cicatrizes profundas dessa natureza em uma narrativa que desafia os limites da justiça, da dor e da sobrevivência. A trama se desenrola nas isoladas montanhas de Wind River, onde a descoberta do corpo de Natalie (Kelsey Asbille), uma jovem indígena, revela um universo sombrio de violência e silêncio. Cory Lambert (Jeremy Renner), um experiente rastreador, e Jane Banner (Elizabeth Olsen), uma agente do FBI deslocada de seu ambiente urbano, unem forças para desvendar um crime cujas pistas estão cravadas na neve e no passado de Lambert.
O assassinato de Natalie escancara não apenas a brutalidade do ato, mas também o descaso com o qual as autoridades tratam casos semelhantes. A jovem morreu após uma fuga desesperada pelo frio cortante, um testemunho cruel do pavor que enfrentou. A investigação conduzida por Lambert e Jane, além de reconstituir os passos da vítima, revela feridas mais profundas. Para Cory, a dor é ainda mais pungente: ele revive a perda de sua filha, vítima de um destino igualmente obscuro. A jornada por respostas torna-se, então, também uma busca por redenção pessoal.
O impacto do filme vai além da tela. Baseado em casos reais de assassinatos de mulheres indígenas, o roteiro denuncia um sistema judicial falho, que em reservas nativas impede agentes locais de prender criminosos não-nativos. Dados alarmantes reforçam a gravidade do tema: milhares de mulheres indígenas desaparecem anualmente nos Estados Unidos, em um fenômeno que permanece subnotificado. A ausência de um banco de dados oficial agrava a subestimação desses números, e o Brasil não escapa de uma realidade similar, com registros crescentes de violência contra povos indígenas.
Em sua produção, Sheridan enfrentou condições climáticas adversas durante 40 dias de filmagem, o que confere autenticidade à ambientação. As atuações de Jeremy Renner e Elizabeth Olsen carregam uma força visceral, ampliando a potência narrativa do filme. A obra é uma denúncia ácida contra a inércia institucional frente à violência, e um chamado urgente à reflexão e à ação. Mais do que uma experiência cinematográfica, trata-se de um manifesto pela visibilidade e justiça para populações marginalizadas.
★★★★★★★★★★