O melhor filme sueco de 2024 está na Netflix (e você ainda não assistiu) Divulgação / Netflix

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A instituição do casamento, por mais falha que se revele, ainda ocupa o posto de uma das construções mais almejadas pela humanidade. Dois seres distintos, como rios que raramente se encontram, sonham com a promessa de um desfecho sereno. Mas, e quando esse ideal se desmancha (e quase sempre se desmancha)? Talvez seja essa a essência do amor. Vinicius de Moraes (1913-1980), mestre no tema, resumiu no seu “Soneto de Fidelidade” (1946): o amor pode não ser eterno, mas é imenso enquanto durar. Essa ideia, aparentemente repetitiva, ainda ecoa, assim como a visão de Fernando Pessoa (1888-1935), que o chamou de ridículo, sem perder sua relevância.

Já Machado de Assis (1839-1908), com seu olhar cético e irônico, talvez encontrasse eco na história de Stella e Gustav, protagonistas de “O Que Tiver Que Ser”. Essa tocante dramédia da sueca Josephine Bornebusch busca desvendar o amor enquanto desconstrói a noção de casamento. Sob influência de Ingmar Bergman (1918-2007), a diretora propõe que o amor possa ser obra divina, mas o casamento seria uma criação terrena, repleta de imperfeições humanas. No fim, talvez a separação eterna seja o único alívio prometido às uniões terrenas.

Num mundo ideal, relacionamentos seriam construídos sobre bases sólidas: conversas profundas, gestos de carinho e escolhas conscientes, resultando, quem sabe, em filhos. Na realidade, entretanto, a família frequentemente emerge de contextos menos idílicos. Quando o estado intervém, medindo e regulando os laços, a família nasce não apenas do sangue, mas da afeição que o transcende. Stella, uma mãe e esposa longe da perfeição, é, no entanto, alguém que tenta — e é nessa tentativa que reside seu maior dilema.

Gustav, terapeuta de casais habituado a dissecar os dilemas matrimoniais alheios, toma a decisão de pedir o divórcio. Stella, por sua vez, enfrenta a iminência de desabar ao guardar uma revelação inesperada que mudará sua família, composta pelos filhos Anna e Manne. O roteiro, assinado e protagonizado pela própria Bornebusch, conduz o espectador por um retrato sensível e corajoso de uma mulher em conflito, que se recusa a ser vítima do sentimentalismo, mas também não foge de sua complexidade. Com ecos de Bergman, mas fiel ao seu próprio estilo, Bornebusch entrega uma narrativa de profundidade e autenticidade.

Filme: O Que Tiver Que Ser
Diretor: Josephine Bornebusch
Ano: 2024
Gênero: Comédia/Drama
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★