“O Protetor” (2014), dirigido por Antoine Fuqua, apresenta-se como um drama de ação carregado de reflexões sobre a moralidade e a resistência frente à indiferença e à crueldade do mundo. O filme propõe um questionamento profundo sobre como enfrentar um ambiente hostil: recolher-se como um molusco em sua concha ou adotar o pragmatismo cínico e se perder no emaranhado de mentiras que permeiam as relações humanas? Nesse panorama, surge Robert McCall, interpretado por Denzel Washington, um protagonista que, mesmo exausto, assume a responsabilidade de confrontar as forças sombrias que ameaçam os vulneráveis.
O roteiro primorosamente estruturado por Richard Wenk captura com precisão a essência de McCall, trazendo cenas que não apenas impactam pela estética visual, mas também provocam reflexões filosóficas. Contudo, é a interpretação impecável de Washington que dá vida e profundidade ao personagem. Ele constrói McCall com uma clareza emocional que evita o óbvio, transformando cada gesto e olhar em elementos fundamentais para o desenrolar da narrativa. Essa simbiose entre texto e atuação eleva o filme a um nível excepcional, complementada por subtramas cuidadosamente desenvolvidas que enriquecem a jornada do protagonista.
A direção de Fuqua, ao explorar o material robusto de Wenk, não decepciona. Desde a introdução, marcada por uma epígrafe de Mark Twain, até os momentos finais, o diretor estabelece um ritmo que mantém o espectador imerso. McCall, inicialmente apresentado como um homem comum e metódico, lembra vagamente o Travis Bickle de “Taxi Driver” (1976), mas as semelhanças se dissipam à medida que sua personalidade é revelada. Diferente do amargor de Bickle, McCall encontra conforto em clássicos da literatura como “O Velho e o Mar” e “Dom Quixote”, reforçando sua natureza contemplativa e seu afastamento do caos que o cerca.
A personagem Teri, vivida por Chloë Grace Moretz, funciona como catalisadora da transformação de McCall. Como Alina, uma jovem prostituta brutalmente agredida, ela desperta no protagonista um senso de justiça que ele acreditava adormecido. É em resposta à violência sofrida por ela que McCall assume seu papel como justiceiro, enfrentando uma organização criminosa russa em sequências de ação de tirar o fôlego. Com recursos mínimos e armas improvisadas, como um saca-rolhas, ele elimina os adversários com uma precisão implacável.
Enquanto o filme se desenrola na contemporânea Boston, a violência coreografada e os diálogos carregados de significado conferem ao longa uma dinâmica única. A relação entre McCall e Teri nunca escorrega para clichês emocionais; ela serve como um espelho que reflete a complexidade interna do protagonista. A cena em que Teri o descreve como um homem “não triste, mas perdido” encapsula a dualidade de McCall: um herói relutante, mas resoluto.
Com 132 minutos intensos, “O Protetor” oferece um desfecho satisfatório e pouco ambíguo, algo raro em histórias carregadas de dilemas éticos. Fuqua entrega um filme que, embora centrado na ação, jamais perde de vista a profundidade humana de seus personagens. E Denzel Washington, com seu talento atemporal, reafirma-se como um dos grandes nomes do cinema, proporcionando uma performance memorável que enriquece cada cena.
★★★★★★★★★★