Uma sociedade fatigada e ávida por respostas rápidas frequentemente se deixa atrair por soluções sedutoras, mesmo que insensatas. O desejo de escapar das limitações humanas, como a própria mortalidade, pode levar muitos a barganhas perigosas. Submeter-se ao inevitável para perpetuar uma existência sem propósito revela um paradoxo inquietante: a ânsia de continuar vivendo pode ter custos irreparáveis.
O cinema tem explorado a morte como tema central desde suas origens, ilustrando as nuances de um fenômeno universal e inevitável. Obras que vão de “Ghost – Do Outro Lado da Vida” (1990), de Jerry Zucker, a “Os Outros” (2001), de Alejandro Amenábar, transitam entre as formas como a perda e o luto moldam a experiência humana. Histórias como “O Mistério da Libélula” (2002), dirigido por Tom Shadyac, e “A Casa dos Espíritos” (1993), de Bille August, oferecem reflexões sobre o impacto emocional da morte e a possível justiça em uma segunda chance. Ainda que temida, a morte instiga uma profunda reflexão sobre sua inevitabilidade.
Em “The Discovery” (2017), Charlie McDowell amplia o debate ao envolver a inteligência artificial nas questões da vida e da morte. Na trama, o cientista Thomas Harbor, interpretado por Robert Redford, conduz experimentos rigorosos que comprovam a existência de algo após o último suspiro. Durante uma entrevista televisionada com uma experiente apresentadora vivida por Mary Steenburgen, um evento inesperado abala tanto o público quanto o próprio cientista, expondo as tensões em torno de sua descoberta. A atmosfera do filme, amplificada pela direção de fotografia de Sturla Brandth Grøvlen, cria um universo visualmente nebuloso, sugerindo a complexidade do tema explorado.
A descoberta de Harbor tem uma consequência devastadora: um aumento alarmante nas taxas de suicídio, alimentado pela promessa de um recomeço. Algumas nações, longe de conter o fenômeno, incentivam o método para aliviar seus sistemas de saúde e previdência. Essa situação revela facetas vulneráveis do cientista, particularmente na relação conturbada com seu filho Will, vivido por Jason Segel. Enquanto Will viaja rumo ao isolamento do pai, encontra Isla, interpretada por Rooney Mara, cuja personalidade introspectiva e conflituosa reflete os dilemas internos que atravessam a narrativa.
A dinâmica entre Will, seu irmão Toby (Jesse Plemons) e Harbor acrescenta camadas ao enredo, enquanto o romance sugerido entre Will e Isla se desenvolve lentamente. A ficção científica aqui se torna um veículo para reflexões filosóficas, explorando a fronteira entre vida e morte, realidade e sonho. Como personagens presos em uma ilha de memórias, os envolvidos se veem confinados entre o real e o imaginário, criando uma perspectiva perturbadora sobre a vida após a morte fabricada.
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