Belíssimo drama de Bille August, baseado em história real da Segunda Guerra, é preciosidade que precisa ser descoberta no Prime Video Divulgação / Roc Pictures

Belíssimo drama de Bille August, baseado em história real da Segunda Guerra, é preciosidade que precisa ser descoberta no Prime Video

Durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto o mundo estava mergulhado em conflitos, a invasão japonesa à China marcou uma das páginas mais brutais da história, com atrocidades como o Massacre de Nanquim e uma China dividida politicamente. Esse cenário complexo e violento serve de pano de fundo para o filme “O Último Soldado”, dirigido pelo dinamarquês Bille August, cineasta consagrado e vencedor de duas Palmas de Ouro em Cannes. Contudo, apesar da riqueza histórica, o filme opta por uma abordagem mais íntima, focada na conexão humana em meio ao caos.

Estrelado por Emile Hirsch, no papel do piloto americano James Doolittle, a trama parte de um evento real: o Ataque Doolittle, realizado em 18 de abril de 1942, como represália ao ataque japonês em Pearl Harbor. Embora o filme incorpore esse fato histórico, a narrativa se desenvolve em torno de uma relação fictícia entre Doolittle e Ying, uma viúva chinesa interpretada por Yifei Liu. Essa relação se desenrola no contexto de sobrevivência e sacrifício, envolvendo também a filha de Ying, a pequena Niuniu (Fangcong Li).

Após um ataque aéreo, o avião de James é abatido e cai próximo à casa de Ying. Demonstrando coragem e compaixão, Ying e Niuniu resgatam o piloto e o escondem do exército japonês. Esse gesto altruísta coloca em risco a segurança da família, já que a presença de James representa uma ameaça constante. Para evitar suspeitas, Ying esconde o piloto no porão, o que desencadeia tensões. James, confinado e angustiado, deseja fugir para Zhejiang, onde acredita que poderá se reunir com seus companheiros. Essa decisão impulsiva, porém, coloca todos em perigo, aumentando o suspense da narrativa.

As barreiras culturais e linguísticas entre James e Ying são elementos centrais da trama. Incapazes de se comunicar plenamente, ambos precisam interpretar gestos, expressões e intenções, o que torna a interação repleta de mal-entendidos e silêncios eloquentes. Ying, introspectiva e marcada pelas perdas da guerra, mantém uma distância emocional, enquanto James luta para compreender a complexidade da situação. Apesar disso, há uma sutil tensão romântica implícita, que nunca se concretiza plenamente, mas permeia a relação entre eles.

Embora a proposta de explorar conexões humanas em meio à adversidade seja promissora, “O Último Soldado” falha em atingir todo o seu potencial. A direção de Bille August, conhecida por sua sensibilidade em obras anteriores, não consegue aprofundar suficientemente os laços entre os personagens. Ying e Niuniu, que poderiam ter sido figuras centrais em uma narrativa emocionalmente rica, são apresentadas de maneira superficial, deixando o público desconectado de seus dilemas e sacrifícios.

A estrutura narrativa do filme dá a impressão de ter sido apressada ou encurtada, comprometendo o desenvolvimento da relação entre James e as mulheres que arriscaram tudo para salvá-lo. Essa falta de profundidade reduz o impacto emocional da história, que poderia ter sido mais comovente e marcante. Mesmo cenas potencialmente tocantes carecem de intensidade, deixando o espectador com a sensação de que algo essencial ficou de fora.

Visualmente, o filme é bem realizado, com cenários que capturam a atmosfera tensa e perigosa da China ocupada pelos japoneses. No entanto, a riqueza visual não é suficiente para compensar os problemas narrativos. A relação entre James, Ying e Niuniu, que deveria ser o coração do filme, parece subdesenvolvida, deixando uma lacuna emocional que impede o público de se envolver completamente.

Para um cineasta do calibre de Bille August, “O Último Soldado” é uma obra que fica aquém das expectativas. Apesar de abordar um tema poderoso e contar com atores talentosos, o filme não consegue transcender sua abordagem convencional. Com mais tempo dedicado ao desenvolvimento dos personagens e à construção de suas relações, a história poderia ter sido muito mais impactante. Como está, é uma experiência cinematográfica que, embora competente, não atinge o nível de excelência que poderia se esperar de seu diretor.

Filme: O Último Soldado
Diretor: Bille August
Ano: 2017
Gênero: Drama/Épico/Guerra
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.