Poucas comédias românticas conseguem equilibrar inteligência e leveza como esta, um feito raro que demonstra o esmero de P.J. Hogan e a escrita inspirada de Ronald Bass. O roteiro, carregado de referências à era clássica de Hollywood, articula uma visão sincera, mas espirituosa, sobre escolhas, tempo e a fragilidade da vida. A trama aborda a relação entre uma mulher ambiciosa e seu antigo amigo, mas transcende o convencional ao explorar dilemas sutis: como a juventude é desperdiçada sob a ilusão de que os anos são infinitos. A seriedade do enredo é diluída por uma estética quase açucarada, mas que guarda notas inesperadamente amargas, desafiando expectativas.
Julianne Potter é uma crítica gastronômica de renome em Nova York, temida pelos donos de restaurantes e distante de sua antiga promessa com Michael O’Neal: casar-se caso ambos permanecessem solteiros aos 28 anos. A tranquilidade de Jules desmorona ao saber que Mike, prestes a atingir essa idade, decidiu casar-se com Kimmy Wallace, uma jovem estudante rica e encantadora. A notícia acende uma chama de urgência e ressentimento em Jules, levando-a a embarcar em um plano precipitado para reconquistar Mike, enquanto enfrenta a amabilidade genuína de sua rival.
Se Julia Roberts e Dermot Mulroney dominam os primeiros momentos, Cameron Diaz rapidamente conquista o público com sua interpretação carismática de Kimmy, uma personagem que foge ao clichê. Apesar de sua aparência de garota perfeita, Kimmy apresenta uma sinceridade desarmante, um contraste marcante à astúcia e impulsividade de Jules. É essa dinâmica que transforma o filme em um embate de personalidades tão imprevisível quanto divertido.
A atuação de Rupert Everett como George, o amigo espirituoso e confidente de Jules, oferece equilíbrio ao furor emocional da protagonista. Ele é um catalisador para a introspecção de Jules, guiando-a entre seus piores instintos e a inevitável aceitação da realidade. Ao abdicar do final fácil e entregar uma conclusão que honra os personagens, o filme desafia as expectativas contemporâneas, mostrando que nem toda comédia romântica precisa sacrificar a integridade por convenções previsíveis.
Ainda que as regras das comédias românticas possam ter mudado ao longo das décadas, esta história resiste ao teste do tempo, oferecendo um vislumbre de um mundo onde decisões têm peso e as relações não se resumem a finais fáceis. A nostalgia por um cinema menos conformista permeia cada cena, mantendo a obra viva e cativante, mesmo tantos anos após seu lançamento.
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