Policiais enfrentam diariamente o impacto implacável de uma realidade brutal. Suas jornadas os colocam frente a cenas de crimes angustiantes, cenários de violência extrema e a constante presença da morte. Essa convivência inevitável com o sofrimento deixa cicatrizes profundas, tanto no corpo quanto na mente. Por isso, o apoio psicológico não é apenas benéfico; é essencial para impedir que esses profissionais sejam consumidos pelas pressões de uma profissão que exige resiliência inabalável.
No thriller investigativo “A Promessa”, dirigido por Sean Penn, somos apresentados à intensa jornada de Jerry Black, interpretado por Jack Nicholson, um detetive veterano à beira da aposentadoria. Ambientado na cidade de Reno, Nevada, o filme começa com o brutal assassinato de uma menina. Movido por um senso de dever que transcende sua carreira, Black promete à mãe da vítima que encontrará o verdadeiro culpado, não importa o custo.
A investigação inicial conduz à captura de Wadenah, vivido por Benicio del Toro, um caçador indígena com histórico de problemas mentais. Sob pressão, ele confessa o crime. Contudo, Black permanece desconfiado, sentindo que a solução é conveniente demais. Seguindo seu faro apurado, ele identifica padrões semelhantes em casos não resolvidos, suspeitando da atuação de um assassino em série. Sua insistência em desafiar a conclusão oficial do caso provoca tensões com a delegacia local, determinada a encerrar a investigação.
A obstinação de Black, entretanto, o conduz por um caminho perigoso de autodestruição. Enquanto sua saúde mental e física se deterioram, o personagem se refugia em vícios, como o álcool e o cigarro, em um desesperado intento de manter o controle sobre um caso que parece escapar de suas mãos. Nesse contexto, ele cruza o caminho de Lori (Robin Wright), uma jovem mãe que luta para proteger sua filha, Chrissy, do ex-marido violento. Ao oferecer abrigo às duas, Black não apenas demonstra empatia, mas também revela uma intenção mais sombria: ele acredita que Chrissy pode ser o próximo alvo do assassino.
Conforme a narrativa avança, o suspense se intensifica. Black arquitetónica uma armadilha para capturar o criminoso, enquanto sua relação com Lori e Chrissy ganha camadas de complexidade moral. O filme constrói uma atmosfera tensa e sufocante, prendendo o espectador em uma espiral de incertezas e perigo iminente. As reviravoltas desafiam tanto o protagonista quanto o público, explorando os limites entre razão, obsessão e justiça.
O elenco de “A Promessa” é uma verdadeira constelação de talentos. Além de Nicholson e Del Toro, o filme conta com as atuações marcantes de Mickey Rourke, Helen Mirren, Vanessa Redgrave, Aaron Eckhart e Harry Dean Stanton. Entre as performances, destaca-se a de Rourke, em um papel breve, mas incrivelmente impactante como o pai de uma das vítimas. Sua atuação foi amplamente celebrada como um marco em sua volta triunfal ao cinema após anos de afastamento. Com nove atores indicados ao Oscar no elenco, a obra se beneficia de uma profundidade emocional rara, amplificada pelas interpretações de Redgrave, Mirren e do próprio Nicholson, todos vencedores da cobiçada estatueta.
Baseado no romance homônimo do autor suiço Friedrich Dürrenmatt, “A Promessa” mescla elementos ficcionais com inspiração em casos reais. O detetive Joe Depczynski, que atuou como consultor na produção, trouxe detalhes autêuticos que enriquecem a trama. Mais do que um filme de investigação, a obra é um mergulho nos dilemas éticos e psicológicos que atormentam aqueles que dedicam suas vidas à busca por justiça. Ao final, “A Promessa” não apenas questiona as certezas da narrativa policial tradicional, mas também desafia o espectador a refletir sobre o preço da verdade e os limites do dever.
★★★★★★★★★★