Uma superprodução de 100 milhões, produzida por Peter Jackson, está na Netflix — e quase ninguém sabe  Divulgação / Universal Pictures

Uma superprodução de 100 milhões, produzida por Peter Jackson, está na Netflix — e quase ninguém sabe 

A fascinação por distopias não é nova, e o cinema, vez ou outra, revisita a temática para explorar como a humanidade caminha para o próprio colapso. Em “Máquinas Mortais”, Christian Rivers conduz o espectador por uma jornada que combina crítica ambiental e fantasia, onde a exploração desenfreada dos recursos naturais se torna a chave para a destruição do planeta. A trama reflete sobre a fragilidade da vida humana e a falência da Terra como a conhecemos, destacando a urgência de rever o rumo suicida das ações coletivas. O tempo, um conceito ambíguo que ora traz alívio, ora serve como algoz, aparece como um dos temas centrais: o modo como o usamos revela tanto nossa essência quanto nossa incapacidade de vivê-lo plenamente. Entre mensagens subliminares e visuais imponentes, o filme provoca reflexões sobre o custo de escolhas individuais e sociais. 

O roteiro, assinado por Fran Walsh, Peter Jackson e Philippa Boyens, é uma adaptação do livro homônimo de Philip Reeve que prioriza o fantástico, relegando a coerência científica a segundo plano. Rivers inicia o longa com uma alegoria de destruição, sugerindo que a humanidade chegou ao limite de sua própria imprudência, projetando um futuro em que a sobrevivência exige um retorno às condições mais primitivas. A fotografia de Simon Raby, com tons vibrantes e contrastantes, cria um efeito duplo: ora suaviza a atmosfera apocalíptica, ora aprofunda o desconforto, provocando o espectador a enxergar serenidade onde há ruína iminente. Dentro desse universo, o antagonista Thaddeus Valentine, interpretado por Hugo Weaving, rouba os holofotes com seu carisma ambíguo e determinação implacável. Sua obsessão por poder é o motor da narrativa, enquanto desenvolve um sistema de energia inédito, capaz de remodelar o que resta da vida terrestre. 

O filme equilibra, ainda que de forma desordenada, o extraordinário e o absurdo. A construção das cidades móveis que devoram umas às outras é tão impressionante quanto simbólica, refletindo nossa eterna luta por recursos escassos e domínio. Apesar do enredo pender para o exagero em determinados momentos, é inegável que sua mensagem atinge um ponto de desconforto: a humanidade, ao tentar fugir de seu próprio caos, frequentemente se encontra aprisionada em escolhas egoístas que agravam a destruição. Embora os heróis da trama falhem em conquistar carisma suficiente para contrabalançar a figura imponente de Valentine, a narrativa aponta para questões profundas sobre sobrevivência, ganância e o preço da ambição. 

Christian Rivers apresenta um espetáculo visual que, por vezes, deixa o público dividido entre a admiração pelo universo imaginado e o incômodo com a relevância das metáforas apresentadas. “Máquinas Mortais” não é apenas um exercício de criatividade visual; é uma provocação sobre como lidamos com nosso planeta, nossos recursos e nossas próprias limitações. 

Filme: Máquinas Mortais
Diretor: Christian Rivers
Ano: 2018
Gênero: Ação/Ficção Científica
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★