Senna na Netflix: a série que traz à vida o ícone brasileiro e emociona o mundo Divulgação / Netflix

Senna na Netflix: a série que traz à vida o ícone brasileiro e emociona o mundo

Fascínio e nostalgia: sinto a chuva e o frio das pistas europeias, assim como o calor vulcânico do motor, ao assistir à série “Senna”, da Netflix. Quando conheci Ayrton Senna, ficou claro que se tratava de um caso único, como a passagem de um cometa. Seu carisma e olhar vivo estavam à frente de uma pessoa que nasceu programada para vencer. À frente de seu tempo e espaço — e aqui não me refiro apenas às pistas. Os seis episódios retratam, de forma vívida, um fenômeno que encarnou os sonhos e as dores de uma nação.

Em um momento icônico, passamos a entender sua identidade. Descendente de siciliano, herdou de seu avô Luigi o pertencimento ao mundo, a coragem de expandir-se territorialmente, sair de sua zona de conforto, deixando de ser Da Silva e eternizando seu verdadeiro eu: Senna.

A complexidade de revelar o homem por trás do capacete foi retratada de maneira emblemática, como no diálogo com o médico da FIA, em que Ayrton afirma não ter opção: o que tem de ser feito, será. Devendo-se a ele a segurança atual deste esporte de limites, o conflito de Eros contra Thanatos — a vida contra a morte — é evidente nos momentos retratados, como quando fazia questão de ajustar fortemente seu cinto antes do começo da partida. Essa expressão realista nos deixa atentos à sua relação com o automóvel: senti-lo, pois o carro era a extensão de seu corpo.

O ator Gabriel Leone, que interpreta o protagonista, uma espécie de Al Pacino tupiniquim, consegue palpitar nossas emoções e nos remete a uma viagem no tempo. Não apenas nos impressiona com sua semelhança física, mas também pela entrega realista ao personagem, quase como uma foto em movimento. É de cair lágrimas em um tempo em que tudo parecia possível, uma época em que o patriotismo se limitava ao amor. O retrato desta série, em todo momento, nos traz à memória o orgulho de nossa nação. Isso fica claro no episódio em que os ingleses não queriam perder novamente seu espaço nos esportes para o Brasil. O país do futebol passa a entrar em cena no automobilismo, tendo Senna como figura central.

A dramática e complexa rivalidade de nosso piloto com o francês Alain Prost nos faz refletir sobre a necessidade de enfrentar obstáculos na vida. No caso em questão, um obstáculo frio e calculista é enfrentado com a paixão de alguém disposto a enfrentar tudo para realizar um destino já traçado. Desde o enfrentamento ao preconceito cultural, politicagem e críticas contínuas da mídia, o surgimento do desconhecido não abalava um homem comprometido com o sucesso. Destaca-se o momento em que Ayrton, vestido com a camiseta do personagem infantil “Senninha”, em um embate com figurões da Fórmula 1, deixa clara sua persona, que motivou o desenho a levar seu nome: o anseio de traduzir o entendimento da criança no linguajar do adulto. Senna, retratado por muitos como uma pessoa de temperamento explosivo, é mais bem compreendido por sua inconformidade com figuras de autoridade que determinavam o futuro da vida de um atleta.

A trilha sonora e o recorte temporal nos brindam como catalisadores emocionais de um país em busca de sua grandeza. Em uma sociedade marcada pela desigualdade e pela esperança, o piloto assume o lugar de um arquétipo heroico, uma projeção coletiva de vitória em meio ao caos. A série reconhece esse simbolismo, explorando o impacto real e a reciprocidade dessa relação entre Senna e o país em que nasceu, que o venerava, registrando este momento histórico com sua frase que ecoa até hoje: “O Brasil todo estava na pista comigo”.

A produção celebra Ayrton Senna como um ícone universal, aprofundando sua jornada como um ser humano multifacetado. A celebração das vitórias e dos duelos épicos retrata o preço e o significado do heroísmo em tempos tão incertos quanto os que ele atravessou, pontuando com classe o casamento de Senna com a vitória.