Woody Allen, mestre em unir melancolia e charme nostálgico, revisita temas atemporais em “Um Dia Chuvoso em Nova York”. Filmado em 2017, mas lançado em um cenário marcado por intensas transformações na indústria cinematográfica, a obra traz à tona o contraste entre o romantismo clássico e as inquietações contemporâneas. Embora ambientado nos dias atuais, o filme mergulha em uma Nova York que parece suspensa no tempo, com ecos dos anos 1960 e 1970. Entre bares ao som de piano, passeios de charrete e cigarros estilizados, cada cena evoca uma atmosfera que celebra o glamour de eras passadas.
A narrativa gira em torno de Gatsby Welles (Timothée Chalamet), um jovem de origem aristocrática que, apesar de frequentar a prestigiosa Universidade de Yardley, é um sonhador inveterado com paixão pela efervescência de Manhattan. Seu par romântico, Ashleigh Enright (Elle Fanning), é uma aspirante a jornalista vinda do Arizona, cuja ingenuidade é tão notável quanto sua determinação em conquistar um lugar entre os grandes nomes da mídia. Quando Ashleigh recebe a oportunidade de entrevistar o renomado cineasta Roland Pollard (Liev Schreiber), Gatsby vê a chance de transformar o compromisso profissional da namorada em um dia romântico pela cidade que tanto adora.
O plano, contudo, desmorona à medida que contratempos imprevisíveis os levam por caminhos distintos. Enquanto Ashleigh é envolvida pelas complexas camadas do mundo do cinema, Gatsby redescobre facetas esquecidas de sua própria vida. Ela, mergulhada nas interações com figuras como o roteirista Ted Davidoff (Jude Law) e o astro Francisco Vega (Diego Luna), desvenda os bastidores de uma indústria repleta de fascínio e intrigas. Ele, por sua vez, reencontra uma antiga paixão em Chan Tyrell (Selena Gomez), cuja sagacidade e autenticidade contrastam com a idealização de Ashleigh.
Lançado em meio às turbulências de 2018, quando a indústria do entretenimento enfrentava as repercussões do movimento #MeToo e os desdobramentos de denúncias contra Harvey Weinstein, o filme também foi impactado pelas polêmicas em torno de Allen. Apesar disso, a obra se destaca por sua habilidade em abordar questões humanas de maneira sutil, explorando os dilemas de identidade, as nuances dos relacionamentos e a busca por propósito em um mundo em constante mudança.
“Um Dia Chuvoso em Nova York” não é apenas uma ode à cidade, mas também um reflexo das contradições que permeiam nossa existência. Entre o humor agridoce e a elegância visual, Woody Allen oferece um filme que, embora envolto em simplicidade, apresenta camadas profundas e instigantes. É um convite para contemplar o impacto do passado no presente e a beleza encontrada nos momentos imprevisíveis da vida.
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