Considerado um dos 70 melhores filmes da história, obra-prima indicada a 172 prêmios e vencedora do Oscar está na Netflix Divulgação / The Weinstein Company

Considerado um dos 70 melhores filmes da história, obra-prima indicada a 172 prêmios e vencedora do Oscar está na Netflix

“Bastardos Inglórios” se destaca não apenas como um marco na carreira de Quentin Tarantino, mas como um dos momentos mais marcantes do cinema contemporâneo. Dividido em capítulos, o filme inicia com uma cena emblemática liderada por Christoph Waltz, no papel do coronel nazista Hans Landa. Conhecido como o “Caçador de Judeus”, Landa visita a casa do fazendeiro francês Perrier LaPadite, em busca de judeus escondidos. Após um diálogo tenso, ele ordena que seus soldados disparem contra o chão, eliminando uma família escondida. Entretanto, a jovem Shoshana foge. Observando sua silhueta desaparecer, Landa deixa escapar um sarcástico “Au Revoir, Shoshana!”.  

O projeto de Tarantino, que precedeu “Kill Bill” em termos de concepção, teve um longo processo de desenvolvimento. Escolher o elenco ideal foi um dos maiores desafios, especialmente para o papel de Landa. Embora Tarantino tenha cogitado Leonardo DiCaprio, ele buscava um ator de origem germânica. A escolha certeira foi Christoph Waltz, então desconhecido do grande público. Sua performance não apenas roubou a cena, mas também lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, consagrando-o como um dos grandes destaques do filme.  

A história, inspirada na Operação Greenup da Segunda Guerra Mundial, reimagina eventos históricos com a assinatura estilística de Tarantino. Na operação real, os judeus refugiados Frederick Mayer e Hans Wijnberg, aliados ao ex-tenente alemão Franz Weber, infiltraram-se no território nazista para desestabilizar a logística inimiga. Em “Bastardos Inglórios”, essa trama ganha vida como o grupo liderado pelo tenente Aldo Raine (Brad Pitt), cujo objetivo é caçar e eliminar nazistas, culminando em um plano audacioso para assassinar Hitler. Entre os membros do grupo estão personagens icônicos como o sargento Donny Donowitz (Eli Roth) e o tenente Archie Hicox (Michael Fassbender).  

Paralelamente, Shoshana, que agora vive em Paris com uma nova identidade, herda um cinema e planeja sua vingança. Durante a estreia de um filme nazista, ela pretende trancar os convidados — incluindo Hitler — e incendiar o local. Essa convergência entre os planos dos Bastardos e a vingança de Shoshana conduz o filme a um clímax explosivo e inesquecível.  

Uma das cenas mais brilhantes ocorre em um pub, onde a tensão atinge níveis insuportáveis. Disfarçados de soldados nazistas, Hicox, Stiglitz e Wicki se encontram com a agente dupla Bridget von Hammersmarck (Diane Kruger) para organizar o ataque. No entanto, a desconfiança do major SS Hellstrom (August Diehl) é despertada por um gesto inocente: ao pedir três copos, Hicox usa os dedos médio, indicador e anelar, um gesto não convencional na cultura alemã. Esse detalhe sutil desencadeia um confronto mortal, exemplificando a habilidade de Tarantino em construir suspense com maestria.  

Tarantino combina elementos de comédia, violência estilizada e reviravoltas históricas em um filme que desafia convenções. Em sua versão fictícia da Segunda Guerra Mundial, o diretor não apenas ressignifica eventos históricos, mas também oferece ao público uma catarse emocional e artística. O resultado é uma obra que mistura entretenimento, inteligência e uma visão única sobre o poder do cinema como veículo de reimaginação histórica.  

Com diálogos memoráveis, personagens inesquecíveis e uma narrativa cheia de camadas, “Bastardos Inglórios” solidifica a reputação de Tarantino como um dos cineastas mais audaciosos de sua geração. Em sua “revanche” cinematográfica, ele transforma a tragédia em arte, criando um filme que continuará a ser celebrado por décadas.

Filme: Bastardos Inglórios
Diretor: Quentin Tarantino
Ano: 2009
Gênero: Aventura/Comédia/Drama/Guerra
Avaliaçao: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.