O que há de comum entre a paixão pelo esporte, a amizade entre quatro mulheres octogenárias e o ícone do futebol americano Tom Brady? À primeira vista, essa combinação soa tão inusitada quanto improvável. No entanto, é exatamente essa peculiaridade que confere a “80 for Brady: Quatro Amigas e uma Paixão” uma qualidade irresistível: a capacidade de tocar corações ao transformar o ordinário em extraordinário. Baseado em eventos reais, o filme dirigido por Kyle Marvin é um retrato espirituoso e afetuoso sobre como sonhos aparentemente improváveis podem se tornar o fio condutor de uma vida cheia de desafios e descobertas.
O enredo acompanha Maura, Trish, Lou e Betty, quatro amigas que, em seus oitenta anos, compartilham não apenas um amor profundo pelo esporte, mas também uma cumplicidade que transcende o tempo. Unidas por sua admiração pelo lendário quarterback Tom Brady, elas embarcam numa jornada em busca de um objetivo comum: assistir à final do Super Bowl. O que poderia ser apenas mais um drama leve sobre superação e camaradagem revela-se uma reflexão poética sobre o envelhecimento, a resiliência e a beleza de se reinventar, mesmo quando as cartas parecem já ter sido todas jogadas.
Kyle Marvin conduz o quarteto principal — interpretado pelas veteranas Rita Moreno, Jane Fonda, Lily Tomlin e Sally Field — com um toque de maestria, extraindo performances repletas de nuances que oscilam entre o cômico e o profundo. O roteiro de Emily Halpern e Sarah Haskins é ágil ao explorar as personalidades únicas das protagonistas, equilibrando humor, emoção e uma certa melancolia que perpassa toda a narrativa. Cada personagem é delineada com uma individualidade que as torna inconfundíveis, mas, juntas, elas compõem um mosaico irresistível de afeto, determinação e, acima de tudo, humanidade.
Há, no filme, uma abordagem sutil sobre o peso do tempo e a forma como ele molda nossas aspirações e lembranças. O passado, por vezes, é como um relicário que abriga tanto a dor quanto o consolo, e o filme o trata com reverência sem cair na armadilha da nostalgia vazia. Ao mesmo tempo, a trama subverte a visão tradicional da velhice como um período de resignação, oferecendo uma perspectiva renovada: a de que o espírito humano é indomável e que há sempre espaço para sonhos — mesmo que sejam os de conhecer um astro do esporte em um palco grandioso.
Não é por acaso que Tom Brady, além de ser o catalisador dos eventos, também assume o papel de produtor do longa. Seu envolvimento é uma jogada de marketing astuta, mas que não diminui o impacto genuíno da história. Pelo contrário, sua presença agrega autenticidade ao enredo e cria uma ponte emocional entre as protagonistas e o público, que é inevitavelmente contagiado por sua devoção.
O filme vai além de uma celebração à amizade ou de uma sátira ao culto das celebridades. É uma reflexão pungente sobre a passagem do tempo e a forma como escolhemos vivê-lo. Se a juventude é um estado de espírito, como muitos gostam de dizer, “80 for Brady” parece sugerir que ela reside não na ausência de rugas, mas na disposição de continuar buscando algo que nos mova, que nos faça sentir vivos.
Com um desfecho que mistura humor, emoção e um toque de ironia, o longa nos lembra que, enquanto o caos e a serenidade se alternam na dança da vida, talvez o maior ato de coragem seja simplesmente participar. Afinal, mesmo diante da imprevisibilidade e das limitações, há sempre uma partida a ser jogada — e quem sabe até vencida.
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