A juventude pode ser um trunfo poderoso em certas carreiras, especialmente naquelas em que a autenticidade vale mais que a experiência. Timothée Chalamet é exemplo dessa espontaneidade, tendo se destacado em “Interestelar” (2014), de Christopher Nolan, e se consolidado em filmes como “Me Chame Pelo Seu Nome” (2017), de Luca Guadagnino, e “Duna” (2021), dirigido por Denis Villeneuve. Mas nem todos seguem essa trajetória meteórica. Algumas promessas no cinema levam anos para encontrar seu espaço ou acabam desaparecendo, mesmo exibindo grande potencial. Richie Merritt, o jovem protagonista de “White Boy Rick” (2018), é um desses casos em aberto, com atuações que impressionam, mas ainda não definem sua longevidade na profissão.
Em “White Boy Rick”, dirigido pelo francês Yann Demange, Merritt encarna Richard Wershe Jr., apelidado de Rick Branquelo, um adolescente dividido entre atuar como traficante de drogas e informante do FBI. O roteiro sustenta-se na verossimilhança e entrega uma narrativa densa sobre escolhas e consequências. Veteranos como Matthew McConaughey, no papel de Richard Wershe Sr., o pai de Rick, só ganham destaque na trama após a forte introdução do protagonista. Merritt impressiona ao dar vida a um jovem ingênuo, mas que rapidamente mergulha nas decisões do crime, acreditando que essa é a saída mais lógica para sua vida. O espectador se vê dividido, torcendo para que ele encontre redenção.
A desestruturação familiar é central para a narrativa, explicitada em momentos como a visita de pai e filho a uma feira de armas em Detroit. Esse evento simboliza o início da corrupção moral de Rick, que, para salvar o pai da chantagem do FBI, aceita se infiltrar no submundo das drogas. O filme explora temas como a corrupção policial, os efeitos devastadores do tráfico e a falência do sonho americano nos anos 1980. A relação de Rick com a irmã Dawn (Bel Powley, em atuação destacada), cujo vício se agrava em meio ao caos familiar, adiciona camadas emocionais à história. Rick, ainda um garoto, é traído por aliados, evidenciando sua incapacidade de navegar pelas complexas regras do crime organizado.
O arco culmina com a prisão perpétua de Rick em 1988, e a longa espera por liberdade condicional, que só chegou em 2017. A dinâmica entre Merritt e McConaughey fortalece o enredo, com a experiência do veterano servindo como contraponto à energia bruta do jovem ator. McConaughey, com sua versatilidade comprovada em “Clube de Compras Dallas” e “O Lobo de Wall Street” (ambos de 2013), entrega uma performance que funciona como um alerta moral para o público. “White Boy Rick” é, acima de tudo, um estudo de personagem, e Richie Merritt, apesar de ainda ser uma promessa, demonstra capacidade de ir além, caso tenha as oportunidades certas para explorar novos desafios.
★★★★★★★★★★