“O Lobo e o Leão” é uma obra do cineasta e ativista pela causa animal Gilles de Maistre, que conduz o espectador a uma jornada emocionante ambientada em uma região selvagem do Canadá. Baseada em uma história dita como real, a trama acompanha Alma (Molly Kunz), uma pianista que, após a morte de seu avô, herda uma cabana isolada em uma ilha cercada pela natureza. Sem outros parentes vivos e com uma promissora carreira em Nova York, Alma inicialmente não pretende morar no local. Contudo, um acidente de avião durante uma tempestade a força a confrontar seus planos e a abraçar um destino inesperado.
Antes de falecer, o avô de Alma deixou um vídeo revelador. Nele, conta como construiu uma amizade peculiar com uma loba, um animal selvagem, mas surpreendentemente dócil, que estava prenha. No vídeo, ele instrui Alma a permitir que a loba continue a frequentar a casa, como fazia nos tempos em que ele ainda estava vivo. Paralelamente, um filhote de leão, arrancado de sua mãe no continente africano, é transportado em uma aeronave de pequeno porte. Durante uma tempestade, o avião sofre um acidente e cai na ilha herdada por Alma, conectando de forma inesperada os destinos de todos.
O encontro entre Alma, a loba e o leãozinho cria um vínculo singular. Após dar à luz a um filhote, a loba assume o papel de mãe para ambos os animais, acolhendo o leão como parte de sua ninhada. Alma, por sua vez, começa a desenvolver um forte apego pelas criaturas e decide ficar na cabana para cuidar do lobinho e do leãozinho, abdicando temporariamente de sua vida em Nova York. Com o passar do tempo, a loba se afasta, deixando seus dois filhotes sob os cuidados da jovem pianista, que se vê profundamente conectada à natureza e às responsabilidades que assumiu.
Apesar da convivência harmoniosa e da aparente tranquilidade, o destino dos animais é ameaçado quando eles são descobertos pelas autoridades. O leão é enviado para um circo que havia comprado o animal, enquanto o lobinho é entregue a um cientista que planeja reintegrá-lo ao seu habitat natural. No entanto, o lobo, já domesticado e sem habilidades para sobreviver sozinho, enfrenta sérias dificuldades em sua readaptação à vida selvagem, evidenciando os dilemas éticos e os desafios da interação entre humanos e animais.
Embora a proposta do filme seja transmitir uma mensagem de proteção animal, a execução apresenta fragilidades significativas. A narrativa assume um tom leve, típico de produções voltadas para o público familiar, mas peca pela superficialidade ao abordar temas profundos. Os personagens humanos são tratados de forma caricata e desprovidos de maior complexidade, enquanto o enredo, apesar de tocante, se mostra simplista e pouco coeso. A falta de exploração mais detalhada dos dilemas morais e das motivações dos personagens contribui para um desenvolvimento raso, tornando o filme mais próximo de um entretenimento despretensioso do que de uma obra reflexiva.
Um aspecto curioso do trabalho de Gilles de Maistre é o uso de animais reais durante as gravações. Desde filhotes, os animais foram socializados com os atores, permitindo que crescessem em cena sem a necessidade de recursos extensivos de computação gráfica. A escolha técnica confere autenticidade às interações entre os atores e os animais, resultando em momentos visualmente críveis. No entanto, o método também levanta questões éticas sobre o uso de animais no cinema, contradizendo, em certa medida, a própria mensagem de preservação que o filme tenta promover.
“O Lobo e o Leão” é uma aventura acessível para o público infantil, com uma mensagem de carinho e respeito pela natureza, mas que carece de profundidade para impactar um público mais crítico. Apesar de suas limitações narrativas e temáticas, a produção oferece momentos de ternura e conexão emocional que podem agradar espectadores em busca de uma experiência simples e reconfortante.
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