Há tempos, os safáris deixaram de ser palco das caçadas promovidas por abastados europeus e norte-americanos, ansiosos por aventuras que preenchessem seu vazio interior, reafirmassem um ideal fragilizado de masculinidade e saciassem seu ímpeto destrutivo. Hoje, as armas cederam espaço às câmeras, mas a intrusão não desapareceu. Agora, a vida selvagem se torna espetáculo para turistas, que, movidos por uma curiosidade incessante, transformam a experiência em um desconforto disfarçado de “exploração cultural”.
É nesse contexto que “A Fera” se desenrola, elaborando uma crítica feroz sobre o impacto das sociedades ditas civilizadas na natureza. Sob a direção de Baltasar Kormákur e com roteiro de Jaime Primak Sullivan e Ryan Engle, o filme explora as consequências do desrespeito humano ao ambiente. A fotografia assinada por Philippe Rousselot utiliza cores quentes e verdes intensos para transmitir o contraste entre a beleza da paisagem africana e a ameaça iminente. À medida que o enredo avança, a narrativa transita de um drama reflexivo para um thriller de sobrevivência, criando uma tensão crescente e um terror atmosférico que carrega o peso de um presságio sombrio.
“A Fera” começa com uma cena emblemática: uma reunião tribal na África do Sul, onde Nate Samuels e suas filhas, Meredith e Norah, são apresentados ao espectador. Simultaneamente, a trama nos mostra um grupo de homens armados caçando um imponente leão, sem compreender que sua arrogância pode ser combustível para a ira do animal. Logo, Nate e suas filhas se dirigem a um canto remoto do país, revisitando um local que o protagonista descreve como parte de “outra vida”. Idris Elba, no papel principal, entrega uma atuação magnética, equilibrando carisma e intensidade.
Aos poucos, a relação entre os personagens ganha profundidade, especialmente à medida que o protagonista, cercado pelos talentos emergentes Iyana Halley e Leah Jeffries, observa a ligação de seu amigo Martin, vivido por Sharlto Copley, com uma dupla de leões machos. No entanto, nem mesmo essa aparente harmonia é suficiente para conter o caos que se instala quando um vilarejo tsongan é devastado pela fera que dá título ao longa. A partir daí, “A Fera” acelera o ritmo, alternando entre sequências de ação frenética e momentos emocionais intensos, enquanto um acerto de contas entre Nate e sua filha mais velha emerge como pano de fundo para a luta pela sobrevivência.
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