No faroeste de Ron Howard, “Desaparecidas”, Cate Blanchett interpreta Maggie, uma mulher com habilidades médicas e mãe de duas garotas: a adolescente rebelde Lilly (Evan Rachel Wood) e a corajosa e sensível Dot (Jenna Boyd). Maggie mantém um romance informal com Brake (Aaron Eckhart), um homem que ela não deseja transformar em parceiro oficial. Esse comportamento reflete seu histórico familiar marcado por abandono e traumas. Maggie foi deixada pelo pai, Samuel (Tommy Lee Jones), quando ainda era criança, após ele decidir formar uma nova família com outra mulher. Embora os traumas de sua infância não sejam detalhados, eles explicam sua personalidade resiliente, independente e desconfiada, especialmente em relação aos homens. Esse histórico também justifica a relutância de Maggie em aprofundar sua relação com Brake.
A história ganha fôlego quando Samuel retorna, após anos de ausência. O reencontro entre pai e filha é tenso e carregado de ressentimentos, pois ambos não sabem lidar com os fantasmas do passado. No entanto, a relação complicada é colocada à prova quando Lilly é sequestrada por uma gangue de indígenas mercenários. Estes homens, que antes serviram ao exército e posteriormente desertaram, vivem agora de capturar mulheres para vendê-las como escravas sexuais no México. Diante dessa tragédia, Maggie e Samuel precisam unir forças e superar suas diferenças para resgatar Lilly.
A jornada pelo deserto, ambiente hostil e cheio de perigos, coloca à prova as habilidades e a coragem dos protagonistas. Samuel, que passou anos convivendo com comunidades indígenas, possui conhecimentos linguísticos e culturais que se mostram cruciais. Ele consegue se comunicar e até fazer aliados durante o caminho. Enquanto isso, Lilly enfrenta constantes abusos e condições precárias, mas demonstra bravura ao ajudar outras meninas também mantidas como prisioneiras pela gangue.
O antagonista principal é Chidin (Eric Schweig), líder da gangue, descrito como um brujo — um feiticeiro que mistura violência física com práticas místicas. A presença de Chidin adiciona um elemento quase sobrenatural à narrativa, com o vilão utilizando maldições e feitiços para intensificar o terror. As sequências de ação incluem perseguições intensas, emboscadas e tiroteios, elevando a tensão e destacando o perigo constante enfrentado pelos personagens.
Apesar de ser visualmente impactante e contar com momentos de ação bem coreografados, “Desaparecidas” sofre de uma falha narrativa: a superficialidade no desenvolvimento dos personagens. Maggie e Samuel, que deveriam ser o coração emocional da trama, têm suas histórias apenas esboçadas, sem profundidade suficiente para criar empatia genuína no público. Essa falta de conexão emocional enfraquece o impacto dramático da história, tornando-a, em certos momentos, mecânica e previsível.
Ainda assim, o filme pode agradar aos fãs do gênero faroeste, especialmente aqueles que buscam tensão e ação. Com uma direção competente de Ron Howard e performances sólidas, especialmente de Cate Blanchett e Tommy Lee Jones, “Desaparecidas” entrega uma experiência cinematográfica envolvente, mesmo que careça de maior substância emocional e narrativa.
★★★★★★★★★★