O melhor romance do século 21, uma das histórias de amor mais arrebatadoras de todos os tempos, está no Max Divulgação / New Line Cinema

O melhor romance do século 21, uma das histórias de amor mais arrebatadoras de todos os tempos, está no Max

Nick Cassavetes encontra em seu filme uma espécie de “Em Busca do Tempo Perdido”, relembrando a profundidade da obra de Marcel Proust. Enquanto o autor francês dedicou anos a dissecar memórias e sensações em detalhes quase táteis, Cassavetes utiliza um romance clássico como alicerce para explorar o amor, suas contradições e as lembranças que o sustentam. Em meio à história, a tensão entre classes e o desencontro emocional revelam-se universais.

A narrativa, ambientada em tempos distintos, alterna entre a juventude explosiva e a velhice contemplativa de um casal. A paixão ingênua de Noah por Allie, uma jovem de origem abastada, carrega tanto a obstinação quanto a fragilidade do primeiro amor. Ainda que Noah demonstre comportamento obsessivo em algumas cenas, como na roda-gigante, o enredo deixa de aprofundar suas nuances psicológicas, transferindo à protagonista feminina o peso das inconstâncias.

Gena Rowlands, mãe do diretor e ícone do cinema, empresta sua presença marcante ao filme, relembrando sua performance visceral em “Uma Mulher sob Influência”. No entanto, aqui sua interpretação está a serviço de um drama romântico que se equilibra entre o piegas e o arrebatador. A trama é permeada por diálogos artificiais e momentos previsíveis, mas Cassavetes consegue extrair autenticidade emocional mesmo nas passagens mais açucaradas.

A química entre Ryan Gosling e Rachel McAdams é inegável, transcendendo os atritos dos bastidores e iluminando a tela. A fotografia de Robert Fraisse, especialmente na cena de abertura, adiciona camadas de lirismo, transformando o pôr-do-sol em um personagem à parte. O filme utiliza analepses para construir um panorama de décadas, conferindo densidade ao desenvolvimento dos personagens e reforçando a força da memória.

Embora previsível, a revelação dos idosos no asilo é conduzida com ternura e delicadeza. O retrato do Alzheimer, que afeta Allie, confere um toque de realidade crua ao conto, elevando a discussão para além do romance idealizado. A escolha de Cassavetes em situar a história em um contexto cultural rígido da década de 1940, onde o preconceito social e as expectativas familiares ditavam regras, traz um contraponto ao otimismo simplório do self-made man.

“O Diário de Uma Paixão” transita entre extremos emocionais e estéticos, nunca se rendendo ao preto e branco. Cassavetes extrai força narrativa dos pequenos gestos, permitindo que as cores do amor e da memória se manifestem em tonalidades marcantes. Se, como Proust, o cineasta busca capturar o tempo que escapa, o faz com um toque cinematográfico que é tão íntimo quanto universal.

Filme: O Diário de Uma Paixão
Diretor: Nick Cassavetes
Ano: 2004
Gênero: Drama/Épico/Romance
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★