Uma trama tão intrigante que faria Tarantino e Agatha Christie aplaudirem, na Netflix Divulgação / Netflix

Uma trama tão intrigante que faria Tarantino e Agatha Christie aplaudirem, na Netflix

Oriol Paulo consolidou-se como uma das vozes mais expressivas do cinema espanhol contemporâneo. Nos últimos anos, sua criatividade transbordou em roteiros, direção e produção de títulos marcantes, aclamados tanto pelo público quanto pela crítica. Filmes como “O Corpo”, “Durante a Tormenta”, “Um Contratempo” e a série “O Inocente” destacam sua versatilidade. Seu mais recente trabalho, inspirado no romance de Torcuato Luca de Tena, “As Linhas Tortas de Deus”, reafirma seu domínio narrativo.

O autor do livro, Luca de Tena, mergulhou no universo psiquiátrico para compor sua obra, convivendo por semanas em um manicômio em Santiago de Compostela, local que posteriormente seria investigado por denúncias de maus-tratos aos pacientes. Tal realidade ressoa no enredo, que expõe a violência emocional e os abusos praticados em instituições semelhantes ao longo das décadas, um retrato que também encontra paralelos no Brasil, como em “Bicho de Sete Cabeças”.

A trama acompanha Alice, uma detetive particular que simula um quadro de instabilidade mental para investigar a morte de um homem dentro de uma clínica psiquiátrica. Contratada pelo pai da vítima, ela elabora um plano engenhoso para se infiltrar na instituição. Sob o pretexto de ser química e ter tentado envenenar o marido, Alice constrói uma narrativa falsa para enganar médicos e funcionários. Contudo, sua versão enfrenta ceticismo crescente, especialmente do diretor do hospital, que a mantém sedada e isolada do mundo.

A tensão cresce à medida que Alice tenta provar sua sanidade e desvendar os segredos do manicômio. Personagens como os psiquiatras Cesar Arellano e Montserrat Castell, além de pacientes como os gêmeos Rômulo e Remo, enriquecem a narrativa. Enquanto isso, o espectador é constantemente desafiado pelas reviravoltas, questionando quem Alice realmente é. Elementos intrigantes apontam para conspirações que envolvem o marido desaparecido e o diretor da instituição, mas nenhuma verdade parece definitiva.

O filme dialoga com referências literárias, como “Alice no País das Maravilhas”, ao embaralhar a percepção da realidade. Alice transita entre paranoia e manipulação, provocando dilemas que deixam o público tão confuso quanto fascinado. Bárbara Lennie entrega uma atuação visceral, premiada com o Goya, que amplia a complexidade de sua personagem. O roteiro brinca com a percepção do espectador, entregando camadas de significado que exigem reflexão até o último instante.

Oriol Paulo constrói um quebra-cabeça onde nem todas as peças se encaixam, mas que prende o público pela intensidade. A ambiguidade final desafia a lógica: Alice é vítima de uma conspiração ou caiu em uma espiral de alucinações? Sem respostas fáceis, a história se desenrola como um labirinto que convida à dúvida. O que parece certo em um momento se transforma em mistério no seguinte, fazendo do filme uma experiência tão desconcertante quanto arrebatadora.

Filme: As Linhas Tortas de Deus
Diretor: Oriol Paulo
Ano: 2022
Gênero: Psicológico/Suspense/Thriller
Avaliaçao: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★