A submissão irrestrita à autoridade paterna era a norma no Reino Unido do início do século 19, um cenário que cobrava um preço alto na liberdade individual. Jane Austen (1775–1817), entre as mais influentes escritoras britânicas, dedicou sua obra a desvendar essas contradições sociais, resultando em narrativas que abordam os conflitos entre emoção e pragmatismo. Publicado em 1811, o primeiro de três romances icônicos, “Razão e Sensibilidade”, contrapõe paixões intensas às necessidades práticas da vida.
Em “Orgulho e Preconceito” (1813), a trama se concentra na sobrevivência de uma família empobrecida, onde a união estratégica entre a filha mais velha e um homem rico desafia barreiras sociais e expectativas familiares. Encerrando essa tríade em 1816, “Persuasão” reflete as escolhas e arrependimentos de uma mulher madura diante das pressões sociais. Após sua morte precoce, aos 42 anos, vítima do mal de Addison, Austen deixou inacabado “Sanditon”, um estudo mordaz sobre a burguesia inglesa, solidificando sua habilidade em revelar as contradições de seu tempo.
Adaptado para o cinema diversas vezes, “Persuasão” ressurgiu em 2022 pelas mãos de Carrie Cracknell, cujo olhar teatral trouxe frescor à narrativa. A diretora utiliza a quebra da quarta parede para conectar público e protagonista, integrando reflexões íntimas à força literária do texto de Austen. O roteiro, assinado por Alice Victoria Winslow e Ron Bass, alterna diálogos intensos com cenas que preservam a essência da obra original. Essa adaptação contemporânea, comparada à versão de Roger Michell (1995), reafirma a relevância do romance ao destacar sua modernidade, mesmo em um cenário de época.
Dakota Johnson incorpora Anne Elliot, uma heroína que transita entre fragilidade e determinação, com figurinos assinados por Marianne Agertoft que evocam um cruzamento entre a Londres do século 19 e a estética urbana contemporânea. Enquanto Anne lida com a dor de um amor perdido, o retorno do capitão Frederick Wentworth intensifica os dilemas emocionais. Cosmo Jarvis entrega um Wentworth resiliente, enquanto Henry Golding, como o enigmático William Elliot, complica ainda mais as escolhas da protagonista.
Cracknell equilibra leveza e profundidade ao criar uma obra visualmente rica e emocionalmente autêntica, mantendo Austen como uma autora atemporal.
★★★★★★★★★★