O filme de Noah Baumbach que merece ser visto duas vezes está de volta à Netflix SquareOne / Universum

O filme de Noah Baumbach que merece ser visto duas vezes está de volta à Netflix

Há momentos em que a vida sussurra pistas que nos guiam, mesmo sem clareza total sobre o destino final. Em sua obra, Noah Baumbach confirma sua habilidade singular de expor as ilusões e fragilidades da convivência a dois. Essa narrativa, longe de seguir uma linha tradicional, transita entre diferentes etapas de sua trajetória criativa, que começou com “A Lula e a Baleia” (2005), evoluiu com “Margot e o Casamento” (2007) e atingiu maturidade com “História de um Casamento” (2018). Embora Baumbach revele nuances complexas da vida conjugal, aqui ele surpreende ao inserir um personagem cativante e controverso, ecoando dilemas éticos que ressoam universalmente.

Inspirando-se na obra de Henrik Ibsen, Baumbach pincela um paralelo intrigante com “Solness, o Construtor”. No texto de Ibsen, Solness é desafiado por jovens que desejam ultrapassar barreiras que ele mesmo ergueu. Em sua versão, o cineasta traz um anti-herói que, assim como Solness, é provocado a repensar suas escolhas e limites. A referência é sutil, mas impactante, destacando as inquietações que surgem quando diferentes gerações se chocam.

Baumbach também dosa sensibilidade e ironia, como ao usar a melodia de “Golden Years” de David Bowie para narrar uma cena de aparente tranquilidade doméstica, rapidamente rompida pelo choro de uma criança. Nesse instante, Josh e Cornelia enfrentam o desconforto de sua posição: um casal na meia-idade, indeciso sobre ter filhos, e tentando ajustar suas aspirações a uma nova realidade. As atuações de Naomi Watts e Ben Stiller sustentam a tensão e a vulnerabilidade dos personagens, enquanto Adam Driver se destaca no papel de Jamie, um jovem ambicioso cuja amizade com Josh desencadeia uma série de conflitos éticos e emocionais.

A trama captura a inquietação de adultos que se veem enganados por uma geração mais jovem, ávida por triunfar sem medir esforços. Amanda Seyfried, no entanto, encontra-se em um papel subaproveitado, representando uma figura secundária sem grande impacto na narrativa. Ainda assim, a obra brilha ao retratar o contraste entre ambição e maturidade, explorando os desafios de encontrar equilíbrio no meio de um turbilhão de expectativas e frustrações. Com uma conclusão que expõe as tensões de egos e gerações, Baumbach entrega uma reflexão perspicaz sobre o tempo, as escolhas e as consequências de querer tudo de uma vez.

Filme: Enquanto Somos Jovens
Diretor: Noah Baumbach
Ano: 2014
Gênero: Comédia/Drama
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★