O faroeste expandiu suas fronteiras a ponto de abarcar temas variados, distantes dos tradicionais caubóis e foras-da-lei. Há tempos, as narrativas deixaram de ser domínio exclusivo de figuras rústicas e destemidas, transformando-se em histórias que exploram as fragilidades humanas. Hoje, a estética do Velho Oeste serve de moldura para dramas que abordam paixões sombrias, a ética dúbia de assassinos e os desejos reprimidos de almas perturbadas, revelando visões de mundo tão distintas quanto complexas.
“Amaldiçoada” reflete essa diversidade. Sob a direção do holandês Martin Koolhoven, o filme cria um microcosmo de personagens marcados por suas tragédias. A trama segue os passos de uma jovem cuja vida é desmantelada em quatro capítulos, cada um evocando passagens bíblicas. É uma narrativa que investiga antigas feridas, reacendendo discussões sobre moralidade e justiça em tempos de permissividade. Koolhoven desenha uma história que, ao mesmo tempo, fascina e inquieta.
O roteiro foca no desejo humano pelo inalcançável, contrastando-o com a indiferença às possibilidades próximas. Essa busca insaciável é ilustrada como uma força que domina, confunde e consome, criando um retrato psicológico marcado por frustrações e ilusões. É nesse cenário que Elizabeth Brundy emerge como uma figura enigmática. A chegada de um novo reverendo à cidade desperta nela uma inquietação crescente, acentuada por temores que o enredo gradualmente confirma.
Liz, parteira de um vilarejo isolado, vive ao lado do marido, enteado e filha, mas sua aparente serenidade oculta segredos profundos. Koolhoven constrói a tensão entre Liz e o pregador com precisão, equilibrando o suspense com revelações impactantes. A interação entre Dakota Fanning e Guy Pearce é o coração da narrativa, suas atuações trazendo camadas às motivações conflitantes dos personagens. Contudo, a ambição do diretor acaba enfraquecendo o clímax, deixando a conclusão aquém do potencial apresentado.
★★★★★★★★★★