Vencedor do Oscar e inspirado em Haruki Murakami: o filme que emocionou o mundo está na Netflix Divulgação / Diaphana Films

Vencedor do Oscar e inspirado em Haruki Murakami: o filme que emocionou o mundo está na Netflix

O que mais pode almejar alguém que já experimentou o sabor do sucesso, usufruindo plenamente dos prazeres terrenos e ocultos? A vida, com seu inevitável senso de ironia, ensina que a verdadeira perda só se revela quando as ilusões que sustentavam nossa confiança começam a desmoronar. Os castelos que pareciam indestrutíveis mostram-se frágeis diante da imprevisibilidade do destino, que molda a existência como uma sequência de instantes fugazes.

Quando o percurso pessoal se estreita e as escolhas parecem limitadas, a jornada nos impele a buscar alegrias inesperadas em um cenário marcado pela dor. É nesse contexto que se desenvolve a trajetória de Yûsuke Kafuku, um homem em constante conflito com os próprios sentimentos e formas de expressão. Ryûsuke Hamaguchi conduz essa reflexão com delicadeza, criando um mergulho nas inquietudes da alma e no choque entre vencer e aceitar as derrotas inevitáveis.

Inspirado no conto homônimo de Haruki Murakami, publicado em 2022, o roteiro transforma complexidade em poesia, entrelaçando caos e método. Hamaguchi amplia a narrativa ao incluir referências sofisticadas ao teatro universal, criando um jogo metalinguístico que desafia o público e expande os limites da história.

Na rotina de Kafuku, interpretado com maestria por Hidetoshi Nishijima, o silêncio revela-se tão eloquente quanto as palavras. Momentos de quietude transcendente, como os vividos ao lado de sua esposa Oto, oferecem um contraponto à turbulência emocional. No entanto, a ausência de Oto, marcada por sua partida mais sugerida que explicada, desencadeia uma jornada de descoberta e transformação.

No centro desse drama, a peça “Tio Vanya”, de Anton Chekhov, ganha nova vida em um elenco japonês que interpreta o texto em russo. A remontagem conduz Kafuku a um diálogo interno com suas próprias perdas, enquanto Misaki, uma jovem que carrega os próprios fardos do passado, surge como um inesperado ponto de apoio. Interpretada por Tôko Miura, Misaki representa a força silenciosa que contrasta com o peso das lembranças e das fragilidades humanas.

O diretor de teatro e ator, agora fragilizado por problemas de visão, encontra em Misaki uma parceira improvável que o guia por um percurso de reconciliação com os próprios fantasmas. Essa interação, ao mesmo tempo complexa e delicada, pontua a narrativa com uma cadência que é tanto dolorosa quanto profundamente humanizadora.

Filme: Drive My Car
Diretor: Ryûsuke Hamaguchi
Ano: 2021
Gênero: Drama/Thriller
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★