De arrepiar: Kerry Washington brilha em um drama de guerra da Netflix que vai te tocar profundamente e ficar na memória Laura Radford / Perry Well Films 2

De arrepiar: Kerry Washington brilha em um drama de guerra da Netflix que vai te tocar profundamente e ficar na memória

Quer seus detratores admitam ou não, Tyler Perry construiu uma carreira impressionante em Hollywood, marcada pela habilidade de transitar entre diferentes gêneros. O criador de sucessos populares, como os filmes da série “Madea” (2005-2022), também é reconhecido por atuações memoráveis, como em “Não Olhe para Cima” (2021), a comédia de humor ácido dirigida por Adam McKay. Nesse filme, Perry mostra sua faceta como ator em uma atuação irônica e bem calculada. No entanto, sua verdadeira marca está na capacidade de usar o cinema para abordar questões sociais relevantes. Ele é, sem dúvida, um dos artistas mais versáteis do setor, capaz de extrair complexidade até das situações mais desafiadoras, especialmente quando estas encontram respaldo em acontecimentos históricos significativos.

É justamente esse potencial que ganha vida em “Batalhão 6888”, onde o diretor mantém seu foco nas mulheres negras e na busca contínua por visibilidade e reconhecimento. Ao lado do corroteirista Kevin Hymel, Perry revisita um capítulo crucial da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que conectou a luta pelos direitos civis à batalha contra o nazismo. A história, embora concentrada nas atividades do 6888º Batalhão do Diretório Postal Central, alcança um simbolismo maior, abordando as tensões raciais e de gênero que ainda ressoam na sociedade contemporânea. Ambicioso e provocativo, Perry organiza temas densos sem forçá-los a uma única conclusão, oferecendo ao público a liberdade de interpretação.

No centro dessa narrativa está a major Charity Adams Earley (1918-2002), interpretada com intensidade por Kerry Washington. Líder do batalhão que deu suporte logístico aos soldados americanos na Europa, Charity enfrentou a misoginia e o racismo enquanto tentava motivar suas subordinadas. Essas mulheres, mesmo longe dos campos de batalha, desempenharam um papel crucial ao manterem o moral das tropas, garantindo que mensagens e correspondências chegassem a seus destinatários. Apesar disso, a discriminação era constante, tanto de seus colegas brancos quanto das altas patentes militares. Personagens históricos como a primeira-dama Eleanor Roosevelt (Susan Sarandon) e a ativista Mary McLeod Bethune (Oprah Winfrey) adicionam profundidade à trama, reforçando o contexto sociopolítico de uma época de mudanças lentas, mas inevitáveis.

Além de liderar suas colegas, Charity é constantemente monitorada pelo general Halt, que supervisiona o trabalho do batalhão com ceticismo e até hostilidade. Enquanto isso, a narrativa também encontra espaço para abordar as relações interpessoais e o lado mais humano das personagens. Milauna Jackson interpreta a capitã Campbell, que divide momentos de cumplicidade e tensão com Charity, enquanto Shanice Williams traz um alívio cômico essencial na pele de Johnnie Mae, uma soldada que reclama do desconforto dos uniformes militares. Esses detalhes enriquecem a trama, equilibrando a seriedade do contexto histórico com toques de humanidade e resiliência, evidenciando a força de mulheres determinadas a lutar de todas as formas possíveis, mesmo quando ignoradas pelos que deveriam reconhecê-las.

Filme: Batalhão 6888
Diretor: Tyler Perry
Ano: 2024
Gênero: Drama/Guerra
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★