A existência humana transita entre medos inconfessáveis, anseios profundos e uma incessante cobrança interna que acreditamos dever ao universo — este, por sua vez, alheio a nossas inquietações, sem qualquer esforço para decifrar nossos desejos ou partilhar de nossas angústias. Os dilemas, sejam eles rasos ou significativos, oscilam conforme as obsessões que nos absorvem, enquanto o futuro permanece envolto em incertezas, provocando o caos intrínseco da vida. O sentimento de inadequação — como se estivéssemos constantemente nos lançando, muitas vezes voluntariamente, em situações desconfortáveis e arriscadas — tende a se dissipar com os anos, cedendo espaço a uma maturidade libertadora, capaz de atenuar esses conflitos. Esse alívio, embora tardio e repleto de cicatrizes, surge como fruto de experiências acumuladas, que nos afastam, ainda que ligeiramente, das tentações do devaneio estéril e das armadilhas da autodestruição.
Ultrapassar as provações da juventude é uma conquista. Vencer as primeiras batalhas da vida exige de cada indivíduo uma capacidade ímpar de abdicação e superação, e nem todos estão preparados para enfrentar esse desafio. Em meio a isso, a vida muitas vezes se comporta como um jogo imprevisível, uma trama repleta de eventos súbitos e devastadores, desafiando qualquer lógica. Histórias que se desenrolam sob essa perspectiva absurdista, como a retratada por Alex Hardcastle, capturam com humor refinado — e cada vez mais raro — o espírito desordenado da existência. Através de uma narrativa cheia de nuances, protagonizada por atores que dominam o equilíbrio entre caricatura e profundidade, o diretor conduz o público por uma experiência que é ao mesmo tempo despretensiosa e nostálgica, evocando memórias de uma juventude não tão distante.
A equipe criativa por trás da história consegue extrair autenticidade de um enredo aparentemente improvável. Desde os primeiros momentos, é evidente a intenção de prestar homenagem a uma geração que cresceu entre os anos 1990 e 2000, um convite irresistível para quarentões mergulharem em referências sensoriais que traduzem a passagem do tempo. Angourie Rice, com sua performance convincente como a jovem protagonista, empresta à trama uma leveza irresistível, contrastando com a abordagem mais exagerada de Rebel Wilson, que assume o papel em fases posteriores da narrativa. A química entre os personagens, especialmente nos encontros repletos de tensões não resolvidas, proporciona momentos memoráveis, ainda que alguns deslizes no tom e na intensidade sejam perceptíveis.
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