Explorar o desconhecido sem preparo ou entendimento profundo frequentemente leva a consequências indesejadas, mesmo quando impulsionado pela curiosidade científica. Culturas externas não necessitam de porta-vozes que as distorçam, pois isso frequentemente resulta em imposições arbitrárias que violam direitos fundamentais, sejam ou não alinhados ao poder dominante. Conflitos armados, desafiando lógica e tempo, tornam-se veículos para interesses econômicos, reafirmação no cenário internacional e destabilização de ordens vigentes — incluindo a própria paz, que transcende geopolítica e economia. Além disso, expõem a capacidade humana para a crueldade, transformando violência em uma prática quase banal. Não à toa, alguém certa vez ironizou: “guerra é uma diversão”. Contudo, é no impacto devastador dessa “diversão” que reside a verdadeira tragédia.
O thriller político de Brad Anderson, lançado em 2018, destaca a duradoura tensão entre os EUA e o Oriente Médio. Situado na Beirute dos anos 70, o filme reconstrói uma cidade marcada por mudanças profundas, utilizando uma direção de arte imersiva para transportar o público ao contexto histórico. A narrativa é conduzida por Jon Hamm como Mason Skiles, um diplomata americano cujo olhar crítico para a capital libanesa surge logo no início. Com um roteiro habilmente estruturado por Tony Gilroy, a trama examina a política externa americana e seus reflexos na vida local. As motivações por trás das ações governamentais permanecem ambíguas: seriam uma crítica à arrogância imperialista ou um retrato irônico das relações internacionais da época? De qualquer forma, a distância cultural entre americanos e libaneses serve como pano de fundo para os dilemas enfrentados por Skiles.
Quando retorna à cidade em 1982, em meio à Guerra Civil Libanesa, a situação de Skiles torna-se ainda mais complexa. O conflito, intensificado pela presença de refugiados palestinos e pela intervenção de forças externas como Síria, Israel e a OLP, coloca o diplomata no centro de uma intrincada rede de interesses. Ele é pressionado a negociar soluções enquanto lida com questões pessoais, como sua relação com Nadia (Leïla Bekhti) e Karim, jovem que outrora fora seu protegido. A evolução de Karim, de pupilo promissor a potencial terrorista, ilustra o ciclo de violência que permeia a região. O sequestro de Cal, amigo de Skiles, por Karim, força o diplomata a confrontar dilemas éticos e emocionais, expondo o impacto da guerra sobre relações humanas.
O longa dialoga com obras como Munique (2005), de Steven Spielberg, ao criticar o caos gerado pela violência organizada, embora não alcance o mesmo reconhecimento. Paralelos também surgem com Reféns de Gladbeck (2022), de Volker Heise, ao explorar o colapso de estruturas de poder. A trama, ao ambientar-se em contextos marcados pela ingerência externa, reflete como o Oriente Médio continua prisioneiro de ciclos destrutivos que perpetuam tragédias.
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