Motivo para ficar em casa no domingo: com Mickey Rourke e Danny Trejo, faroeste como você nunca viu está na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Motivo para ficar em casa no domingo: com Mickey Rourke e Danny Trejo, faroeste como você nunca viu está na Netflix

Em “Inferno no Faroeste”, o diretor Roel Reiné transporta o público para um universo em que o absurdo domina, enquanto a violência crua e estilizada molda cada cena. Este faroeste, permeado por uma estética trash e uma narrativa recheada de vingança e traição, acompanha Guerrero, um fora da lei brutalmente assassinado por seus próprios comparsas sob as ordens de Red Cavanaugh, seu meio-irmão e rival jurado. Condenado ao sofrimento eterno, Guerrero recebe uma oferta inesperada do próprio diabo: a chance de retornar à vida para acertar as contas com seus algozes.

O roteiro de Brendan Cowles e Shane Kuhn intercala os cenários poeirentos de Tombstone com um submundo infernal visualmente arrebatador. As sequências de ação, despojadas de efeitos digitais e repletas de impacto visceral, são coreografadas com precisão e brutalidade, capturando a intensidade que caracteriza os clássicos do gênero. Mesmo espectadores menos entusiastas de faroestes são atraídos pela direção segura de Reiné, que mistura exagero grotesco com a essência dos bangue-bangues tradicionais.

Ao renascer com habilidades sombrias, Guerrero inicia uma caça implacável contra Red e sua gangue. A dinâmica entre os irmãos transcende o clichê da rivalidade familiar, mergulhando em temas como exclusão social e disputas por poder. Guerrero, um mestiço marginalizado, contrasta de forma aguda com Red, que ocupa uma posição de privilégio enquanto alimenta seu desprezo pelo irmão. Ambos, filhos de uma prostituta, encarnam facetas de uma mesma origem marcada pela rejeição. A trama transforma essas feridas pessoais em uma reflexão sobre redenção e vingança, costurando os conflitos com uma dose amarga de insanidade.

A direção de arte é um dos pontos altos da produção. O inferno concebido por Reiné é um lugar opressor, com paisagens áridas e elementos simbólicos que evocam tormento e desesperança. Entre os cenários mais marcantes, destaca-se uma fornalha colosal que abriga almas condenadas e uma cadeira de tortura onde o diabo, vivido por Mickey Rourke, deixa sua assinatura flamejante. Rourke entrega uma performance memorável, canalizando a aura soturna que o revitalizou em “O Lutador”. Danny Trejo e Anthony Michael Hall também adicionam camadas à decadência moral do enredo com interpretações que beiram o grotesco.

Por trás da violência estilizada e do humor sarcástico, “Inferno no Faroeste” revela a paixão de Reiné pelos faroestes que marcaram sua juventude na Holanda. Cada frame exala reverência e ironia, resultando em uma experiência cinematográfica que transcende os limites do gênero. Reiné converte o nonsense em poesia visual, entregando um filme que é, ao mesmo tempo, uma carta de amor ao faroeste e uma provocação ao público, desafiando-o a abraçar o exagero e a brutalidade como parte integral dessa jornada fascinante.

Filme: Inferno no Faroeste
Diretor: Rolê Reine
Ano: 2013
Gênero: Faroeste/Terror
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★