Se você amou Capitão Fantástico, o filme sobre solidão e autoconhecimento que vai tocar sua alma está na Netflix Divulgação / Harrison Productions

Se você amou Capitão Fantástico, o filme sobre solidão e autoconhecimento que vai tocar sua alma está na Netflix

Nem sempre os pais têm todas as respostas ou fazem as escolhas certas. Às vezes, são os filhos que enxergam o mundo com maior clareza. A diretora Debra Granik já havia explorado essa dinâmica em seu aclamado trabalho de 2010, quando trouxe Jennifer Lawrence ao protagonismo em uma história marcada pela luta de uma adolescente para sustentar sua família. Agora, com sua produção mais recente, ela desafia ainda mais os limites, apresentando um retrato íntimo e carregado de tensões entre um pai veterano de guerra e sua filha adolescente.

Neste filme, Will e Tom vivem isolados em uma reserva florestal nos arredores de Portland, uma escolha que parece ideal para ele, mas não tanto para ela. Quando as autoridades os obrigam a deixar o local, eles entram em conflito com o sistema, que tenta reinseri-los em uma sociedade que Will rejeita. A trama se aprofunda ao explorar a relação conturbada entre os dois, marcada por um amor que, em vez de libertar, aprisiona. Tom, delicadamente interpretada por Thomasin McKenzie, é o oposto de seu pai, trazendo humanidade e frescor a uma história que, a cada cena, revela as tensões de uma convivência forçada e desigual.

Ben Foster, em mais uma atuação visceral, dá vida a um homem profundamente marcado por traumas. Seu Will oscila entre a ternura de um pai preocupado e os atos egoístas de alguém incapaz de aceitar as necessidades da filha. A complexidade desse relacionamento se reflete em momentos singelos e devastadores, como uma simples refeição que revela, sem palavras, o abismo crescente entre os dois. Enquanto isso, Tom, com sua ingenuidade juvenil, começa a perceber que a vida ao lado do pai a priva de experiências fundamentais, e seus primeiros contatos com o mundo fora da floresta se tornam janelas para uma liberdade desejada.

Ao longo do filme, a incompatibilidade entre os dois torna-se insuportável. A tentativa de Will de manter sua filha ao seu lado a todo custo contrasta com os primeiros passos dela em direção à autonomia. A trama ganha tons ainda mais melancólicos quando Tom percebe que seu pai, por mais que o ame, é incapaz de mudar. Ele a arrasta para uma jornada de isolamento e dor, enquanto ela, desesperadamente, busca um espaço para florescer. A narrativa de Granik é um convite a refletir sobre o peso das relações que nos unem, mas que, às vezes, precisamos romper.

O simbolismo da prisão emocional é explorado de forma pungente. Assim como em outras histórias sobre vínculos familiares tóxicos, a dor do afastamento é inevitável, mas libertadora. A vida com Will, para Tom, é uma batalha constante entre o amor e a sobrevivência. Esse dilema chega ao ápice quando ela percebe que a única forma de ser feliz é deixar o pai para trás. Granik constrói um retrato profundamente humano e sem concessões, entregando um filme que não se contenta com respostas fáceis e deixa o espectador em uma inquietação transformadora.

Filme: Sem Rastros
Diretor: Debra Granik
Ano: 2018
Gênero: Aventura/Drama
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★