Liam Neeson chegou à Netflix com o filme que vai te fazer cancelar tudo neste final de semana Divulgação / Eagle Films

Liam Neeson chegou à Netflix com o filme que vai te fazer cancelar tudo neste final de semana

Liam Neeson segue dando as cartas em Hollywood quando se trata de encarnar anti-heróis sisudos, mas carismáticos. É o que continua a se ver em “Agente das Sombras”, o filme de Mark Williams em que, mais uma vez, o astro da franquia “Busca Implacável” (2008-2014) e de “A Chamada” (2023), seu trabalho mais recente, dirigido por Nimród Antal, faz tudo quanto já nos acostumamos a vê-lo fazendo na tela. Neeson repete-se (e muito), é verdade, ou, por outro lado, as tramas que escolhe protagonizar são, em essência, quase sempre as mesmas — o que não deixa de desdizer aquela máxima tola de Brecht —, mas em “Agente das Sombras” o especialista em livrar outros espiões de mortes brutais e muitas vezes perversas representa boa parte do encanto da história, mérito de Williams e de seu roteiro tecnicamente impecável, assinado com Nick May e Brandon Reavis. Neeson e um elenco de ótimos coadjuvantes tratam de enriquecer de sentimentos contraditórios, mas sempre verdadeiros, um argumento à primeira vista surrado.

Travis Block é um ingênuo. Depois de anos de uma bem-sucedida carreira no FBI, ele percebe que está cercado de gângsteres, movidos pelos propósitos mais escusos. Ele abre uma maleta na qual está seu passaporte para a justiça: uma arma de alta precisão. O filme começa mesmo com a sugestão de um atentado em Washington a Sofia Flores, uma corajosa deputada progressista, e embora confesse uma evidentíssima preferência ideológica, o diretor mantém as rédeas sobre a trama. A personagem de Mel Jarnson é uma referência a Gabrielle Giffords, a ex-parlamentar democrata alvejada na cabeça à queima-roupa por um supremacista branco em 2011, bem como Travis Block é uma alusão um tanto óbvia a Travis Bickle, o ex-combatente da Guerra do Vietnã (1955-1975) que ganha a vida dirigindo seu táxi, dono de uma ficha invejável no departamento de trânsito e um fascista empedernido. 

Apesar dessa busca inorgânica por aprovação, Williams dá provas de saber onde está pisando, e as sequências nas quais suaviza a tensão mostrando Block em encontros quase furtivos com a neta, Natalie, desencorajados e plenos de merecida reserva por parte de Amanda, a mãe da garota, sua filha (sobre este tópico, basta dizer que, no aniversário da criança, Block a presenteia com uma lanterna com um taser embutido). Ele tem ciência de que não foi um bom pai, mas quer ser o melhor avô que puder, e sem nenhum cálculo esse núcleo torna-se uma das melhores coisas no longa, muito mais dramaturgicamente vigorosa que a parceria entre Block e Gabriel Robinson, o diretor do serviço secreto americano vivido por Aidan Quinn. Neeson, Gabriella Sengos e Claire van der Boom conferem alma a um enredo sem grandes possibilidades que não sejam encher as burras do estúdio e dos produtores. Entre os quais o próprio Williams.

Filme: Agente das Sombras 
Diretor: Mark Williams
Ano: 2022
Gênero: Ação/Thriller
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.