Poucas vezes o cinema conseguiu traduzir com tanta força os efeitos devastadores da pobreza, da desigualdade e da ausência de recursos na vida de pessoas e na estrutura de um país. “Parasita” desafia rótulos com uma narrativa que, à primeira vista, poderia ser tomada como uma comédia de costumes com nuances de suspense. No entanto, bastam alguns minutos para revelar um enredo denso, que não se contenta com interpretações superficiais. A trama, envolta em uma linguagem visual sofisticada, vai além da superfície, instigando reflexões sobre a realidade social e seus múltiplos desdobramentos.
Sob a direção impecável de Bong Joon-ho, mestre em abordar questões incômodas de forma acessível e impactante, o filme conquistou o Oscar de Melhor Filme, feito inédito para um longa em idioma estrangeiro. Esse marco histórico, que também lhe rendeu a Palma de Ouro em Cannes e o prêmio de Melhor Filme Internacional, insere “Parasita” na elite cinematográfica, 65 anos após o último título a alcançar feitos semelhantes. Bong, junto a Han Jin-won, explora a maturidade narrativa adquirida em trabalhos anteriores, como “Expresso do Amanhã” e “Okja”, para retratar uma família marginalizada que dobra caixas de pizza e sobrevive à margem do consumo. Quando uma oportunidade improvável surge, os personagens embarcam numa escalada de ambiguidades morais, em que a exploração se revela como uma via de mão dupla.
A atuação de Choi Woo-sik, aliada às surpreendentes reviravoltas do roteiro, conduz a trama para territórios inesperados. O que começa como uma comédia amarga sobre golpistas em busca de ascensão social se transforma em uma análise implacável sobre a exploração e o abismo entre ricos e pobres. À medida que o enredo avança, a narrativa coloca o espectador diante de um dilema crucial: quem realmente explora quem? “Parasita” rejeita respostas simples, preferindo deixar no ar uma inquietação que persiste muito além dos créditos finais.
★★★★★★★★★★