Histórias sobre figuras como Elwood Dalton, o núcleo de “Matador de Aluguel”, orbitam ao redor de personagens dúbios, cuja vida nas sombras define suas trajetórias. Esses arquétipos, essencialmente ambíguos, sustentam narrativas que flertam com a grandiosidade, mas dependem de elementos técnicos como a fotografia apurada de Henry Braham para se destacar. Contudo, o filme de Doug Liman perde fôlego ao amarrar seus momentos de confronto a convenções rígidas da computação gráfica, limitando o espaço para que Jake Gyllenhaal resgate o interesse do espectador. As sequências de ação, embora intensas, cedem ao previsível, deixando pouco além da superfície.
O roteiro, assinado por Anthony Bagarozzi, R. Lance Hill e Chuck Mondry, revisita o clássico de Rowdy Herrington de 1989, que, por sua vez, já subvertia a imagem de Patrick Swayze, então em alta após “Dirty Dancing”. A transição do ator para um personagem envolto no submundo foi marcante, enquanto Gyllenhaal adota um anti-herói dividido entre aceitar seu destino e desejar transformações tardias. No entanto, sua performance encontra barreiras em um roteiro que almeja profundidade sem conseguir sustentá-la, oscilando entre reflexões inconclusivas e diálogos extensos, comprometendo o ritmo e a relevância do enredo.
Dalton, ex-lutador de UFC, sobrevive com empregos precários e combates clandestinos, enfrentando adversários tão inusitados quanto ele, como Carter, interpretado pelo deslocado Post Malone. A luta inicial sugere que ele ainda tem um longo caminho antes de abandonar os ringues. Contudo, enquanto as perspectivas de sucesso diminuem, seu horizonte escurece: não apenas falta-lhe vocação para outra vida, como o intervalo entre confrontos aumenta. Nesse cenário, ele conhece Frankie, proprietária de um bar problemático nas Florida Keys, alvo de extorsões por gangues motorizadas. Dalton precisa do emprego, e Frankie, de sua habilidade para enfrentar os inimigos.
Contratado para mais do que resolver brigas, Dalton encara um desafio que exige mais do que força física. Liman explora sua transformação de lutador relutante em uma figura sombria que ganha notoriedade na costa sul. Jessica Williams se destaca como um alívio cômico quase trágico em meio à violência, enquanto Daniela Melchior, como Ellie, médica que socorre Dalton em momentos críticos, revela camadas sutis sobre a desconexão de seu protagonista com o amor e a redenção. Apesar disso, o filme nunca parece plenamente ciente de suas nuances femininas, concentrando-se em um espetáculo que raramente alcança o impacto almejado.
“Matador de Aluguel”, disponível no Prime Video, combina tentativas de reinvenção com homenagens ao original, mas seu foco em chocar raramente ultrapassa a superfície. Em meio a dilemas existenciais e violência estilizada, emerge uma narrativa que, embora entregue momentos de tensão, nunca atinge o potencial necessário para transcender.
★★★★★★★★★★