Se a maturidade traz consigo o fardo da solidão, como sugeriu o filósofo francês Jean Rostand (1894-1977), o ser humano busca incessantemente antídotos para aliviar esse peso existencial. Alguns encontram refúgio na família, na espiritualidade ou nos prazeres imediatos, cada um desses caminhos oferecendo alento momentâneo e, ao mesmo tempo, expondo suas limitações. Da mesma forma, o trabalho pode se tornar uma âncora, mantendo a mente ocupada e os problemas à distância.
No entanto, a passagem do tempo impõe suas condições: a vitalidade declina, e tarefas antes realizadas com facilidade passam a exigir esforço redobrado. Esse confronto com as limitações da idade é capaz de mergulhar muitos em um labirinto de desilusão, onde a vaidade e a confiança se revelam fundadas em terrenos instáveis. Apenas aqueles que, ao despertarem de seu transe egocêntrico, reconhecem a necessidade de reinvenção conseguem enfrentar as marés do tempo com resiliência e propósito renovado.
O esporte, por sua vez, funciona como uma poderosa alegoria para a efemeridade — seja da glória ou da própria existência humana. A dedicação e o desempenho que fascinam os espectadores nos campos e quadras são, inevitavelmente, limitados pelo tempo. Jogadores que protagonizam feitos memoráveis, como cestas decisivas ou gols antológicos, enfrentam o desafio de reconhecer que a carreira tem prazo de validade. Mas o tempo também é um aliado paradoxal, exigindo que o atleta amadureça para compreender as sutilezas de seu ofício e se ajuste ao ritmo adequado — nem rápido demais, nem lento a ponto de perder a chance de evoluir. Nesse cenário, ou a adaptação ocorre a tempo, ou a oportunidade escapa para sempre.
Em “Arremessando Alto” (2022), o diretor Jeremiah Zagar explora essas nuances com sensibilidade ao unir duas narrativas complementares: a do atleta consciente de suas limitações e a do veterano que precisa redefinir seu papel após os dias de glória. A história acompanha Stanley Sugarman, vivido por Adam Sandler, um ex-jogador de basquete que se tornou olheiro do Philadelphia 76ers. Durante anos, Sugarman sacrificou momentos preciosos com a família — como aniversários de sua filha, interpretada por Jordan Elizabeth Hull — em prol de uma carreira que, embora glamourosa, também cobrava seu preço.
Sua relação com a esposa Teresa, interpretada por Queen Latifah, também foi desgastada pelas ausências constantes. Uma reviravolta ocorre quando o dono da equipe, Rex Merrick (Robert Duvall), oferece a Sugarman a posição de técnico, um passo significativo para além das quadras. Contudo, eventos inesperados o forçam a retornar à rotina de viagens, buscando novos talentos pelo mundo. É nessa jornada que ele encontra Bo Cruz (Juancho Hernangómez), um jovem promissor descoberto em uma quadra improvisada na ilha espanhola de Maiorca.
A narrativa ganha intensidade ao explorar a relação entre Sugarman e Cruz, centrando-se nos desafios enfrentados por ambos. Para Bo, a mudança para os Estados Unidos representa não apenas a oportunidade de uma carreira no basquete, mas também a necessidade de deixar para trás sua família: a mãe Paola (María Botto) e sua pequena filha Lucía (Ainhoa Pillet). O roteiro, assinado por Taylor Materne, não foge dos clichês do gênero, como a xenofobia enfrentada pelo protagonista, suas dificuldades de adaptação e os confrontos com Vince Merrick (Ben Foster), herdeiro do Philadelphia 76ers. Ainda assim, o filme consegue trazer frescor ao gênero, muito em função da atuação convincente de Sandler e do carisma natural de Hernangómez.
A dinâmica entre os protagonistas é o coração pulsante de “Arremessando Alto”. Sandler, em uma de suas performances mais maduras, transmite com precisão o peso de anos de sacrifícios e a esperança de um recomeço. Hernangómez, por sua vez, surpreende ao trazer vulnerabilidade e força a Bo Cruz, equilibrando sua inexperiência como ator com uma entrega autêntica. Esse equilíbrio garante a coesão emocional do filme, que vai além dos estereótipos tradicionais de histórias esportivas.
“Arremessando Alto” emerge como uma celebração não apenas do esporte, mas também da capacidade humana de evoluir diante das adversidades. A produção não reinventa a roda, mas combina elementos familiares com atuações inspiradas e uma direção cuidadosa, resultando em um dos filmes de esportes mais envolventes dos últimos anos.Se a maturidade traz consigo o fardo da solidão, como sugeriu o filósofo francês Jean Rostand (1894-1977), o ser humano busca incessantemente antídotos para aliviar esse peso existencial.
Alguns encontram refúgio na família, na espiritualidade ou nos prazeres imediatos, cada um desses caminhos oferecendo alento momentâneo e, ao mesmo tempo, expondo suas limitações. Da mesma forma, o trabalho pode se tornar uma âncora, mantendo a mente ocupada e os problemas à distância. No entanto, a passagem do tempo impõe suas condições: a vitalidade declina, e tarefas antes realizadas com facilidade passam a exigir esforço redobrado. Esse confronto com as limitações da idade é capaz de mergulhar muitos em um labirinto de desilusão, onde a vaidade e a confiança se revelam fundadas em terrenos instáveis. Apenas aqueles que, ao despertarem de seu transe egocêntrico, reconhecem a necessidade de reinvenção conseguem enfrentar as marés do tempo com resiliência e propósito renovado.
O esporte, por sua vez, funciona como uma poderosa alegoria para a efemeridade — seja da glória ou da própria existência humana. A dedicação e o desempenho que fascinam os espectadores nos campos e quadras são, inevitavelmente, limitados pelo tempo. Jogadores que protagonizam feitos memoráveis, como cestas decisivas ou gols antológicos, enfrentam o desafio de reconhecer que a carreira tem prazo de validade. Mas o tempo também é um aliado paradoxal, exigindo que o atleta amadureça para compreender as sutilezas de seu ofício e se ajuste ao ritmo adequado — nem rápido demais, nem lento a ponto de perder a chance de evoluir. Nesse cenário, ou a adaptação ocorre a tempo, ou a oportunidade escapa para sempre.
Em “Arremessando Alto” (2022), o diretor Jeremiah Zagar explora essas nuances com sensibilidade ao unir duas narrativas complementares: a do atleta consciente de suas limitações e a do veterano que precisa redefinir seu papel após os dias de glória. A história acompanha Stanley Sugarman, vivido por Adam Sandler, um ex-jogador de basquete que se tornou olheiro do Philadelphia 76ers. Durante anos, Sugarman sacrificou momentos preciosos com a família — como aniversários de sua filha, interpretada por Jordan Elizabeth Hull — em prol de uma carreira que, embora glamourosa, também cobrava seu preço.
Sua relação com a esposa Teresa, interpretada por Queen Latifah, também foi desgastada pelas ausências constantes. Uma reviravolta ocorre quando o dono da equipe, Rex Merrick (Robert Duvall), oferece a Sugarman a posição de técnico, um passo significativo para além das quadras. Contudo, eventos inesperados o forçam a retornar à rotina de viagens, buscando novos talentos pelo mundo. É nessa jornada que ele encontra Bo Cruz (Juancho Hernangómez), um jovem promissor descoberto em uma quadra improvisada na ilha espanhola de Maiorca.
A narrativa ganha intensidade ao explorar a relação entre Sugarman e Cruz, centrando-se nos desafios enfrentados por ambos. Para Bo, a mudança para os Estados Unidos representa não apenas a oportunidade de uma carreira no basquete, mas também a necessidade de deixar para trás sua família: a mãe Paola (María Botto) e sua pequena filha Lucía (Ainhoa Pillet). O roteiro, assinado por Taylor Materne, não foge dos clichês do gênero, como a xenofobia enfrentada pelo protagonista, suas dificuldades de adaptação e os confrontos com Vince Merrick (Ben Foster), herdeiro do Philadelphia 76ers. Ainda assim, o filme consegue trazer frescor ao gênero, muito em função da atuação convincente de Sandler e do carisma natural de Hernangómez.
A dinâmica entre os protagonistas é o coração pulsante de “Arremessando Alto”. Sandler, em uma de suas performances mais maduras, transmite com precisão o peso de anos de sacrifícios e a esperança de um recomeço. Hernangómez, por sua vez, surpreende ao trazer vulnerabilidade e força a Bo Cruz, equilibrando sua inexperiência como ator com uma entrega autêntica. Esse equilíbrio garante a coesão emocional do filme, que vai além dos estereótipos tradicionais de histórias esportivas.
“Arremessando Alto” emerge como uma celebração não apenas do esporte, mas também da capacidade humana de evoluir diante das adversidades. A produção não reinventa a roda, mas combina elementos familiares com atuações inspiradas e uma direção cuidadosa, resultando em um dos filmes de esportes mais envolventes dos últimos anos.
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