David Mackenzie, cineasta responsável por produções marcantes como “Legítimo Rei” e “Sentidos do Amor”, alcançou um notável prestígio com “A Qualquer Custo”, longa indicado a quatro categorias do Oscar em 2017, incluindo melhor filme e melhor roteiro original. Essa obra reinventa o western ao transportá-lo para os desafios contemporâneos, abordando temas como desigualdade social, vingança e os limites da sobrevivência em um sistema opressor. Na trama, os irmãos Toby e Tanner Howard, vividos por Chris Pine e Ben Foster, recorrem a uma sequência de assaltos a agências bancárias no Oeste americano para liquidar as dívidas que ameaçam o rancho da família. Contudo, o experiente e obstinado xerife Marcus Hamilton, interpretado por Jeff Bridges, não poupa esforços para capturá-los, acompanhado de seu parceiro Alberto (Gil Birmingham), em uma perseguição marcada pela tensão e ambiguidade moral.
A narrativa constrói uma teia complexa de motivações, onde os irmãos, longe de serem vilões clássicos ou heróis idealizados, revelam suas falhas e vulnerabilidades. O plano de assaltar agências do mesmo banco responsável pela hipoteca do rancho combina ousadia e desespero: roubam pequenas quantias, lavam o dinheiro em cassinos e o utilizam para quitar a dívida. No entanto, a tensão cresce a cada golpe, especialmente quando um assalto maior chama a atenção da comunidade local, levando a um confronto inesperado com moradores armados. Enquanto isso, Hamilton, com sua personalidade controversa, não se limita apenas a perseguir os criminosos, mas também a refletir sobre os dilemas éticos da justiça em uma sociedade que não perdoa os que desafiam suas estruturas.
Em meio às vastas paisagens desérticas e sob um sol abrasador, o filme se desenrola como um road movie com toques de faroeste, conduzindo o público por estradas desertas e cenários que evocam tanto isolamento quanto perigo iminente. A relação entre os irmãos, marcada por constantes conflitos, ironia e um vínculo profundo, confere um toque de humanidade à narrativa. Tanner, impulsivo e caótico, muitas vezes desafia os limites da prudência, enquanto Toby, mais introspectivo, carrega o peso das escolhas que ambos precisam fazer. A interpretação de Ben Foster traz uma intensidade selvagem ao personagem, enquanto Chris Pine equilibra vulnerabilidade e determinação.
Um momento emblemático da trama ocorre quando Tanner, num raro instante de sinceridade, sugere que Toby visite seus filhos, antecipando o desfecho trágico que pressente: “Nunca vi ninguém se safar de algo que tenha feito errado”. A frase encapsula o dilema central do filme, que confronta o público com a inevitabilidade das consequências. Embora os irmãos conquistem a simpatia do espectador, especialmente ao desafiarem o sistema financeiro que aprisiona a todos, a narrativa recusa soluções fáceis. Justiça, aqui, não é sinônimo de redenção, e o destino dos protagonistas reflete a dureza de um mundo onde desafiar as estruturas hegemônicas tem seu preço.
“A Qualquer Custo” entrega mais do que uma história de perseguição: é uma análise densa sobre moralidade, desigualdade e o impacto de escolhas em contextos adversos. As paisagens áridas, o ritmo envolvente e os personagens multifacetados criam um faroeste moderno que combina reflexão e entretenimento. Cada cena é impregnada de tensão e significado, culminando em um desfecho que desafia as expectativas e deixa o público imerso em uma jornada que permanece na memória.
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