Em um mundo marcado pela exaustão e pela busca incessante por respostas rápidas, muitas vezes ilusórias, poucos temas provocam tanta inquietação quanto a possibilidade de contornar a morte. A ideia de transcender a finitude da vida é sedutora e perturbadora. No cinema, a morte sempre foi um terreno fértil para explorações narrativas. Desde os espectros apaixonados de “Ghost — Do Lado da Vida” (1990) até o ambiente claustrofóbico de “Os Outros” (2001), os filmes têm examinado a fragilidade humana diante do inevitável. Em “The Discovery” (2017), Charlie McDowell reinventa essa tradição ao explorar, de maneira sombria e reflexiva, os desdobramentos éticos e emocionais de uma suposta evidência científica da vida após a morte.
O filme inicia com uma revelação que abala os fundamentos da sociedade: o Dr. Thomas Harbor (Robert Redford), um cientista recluso e carismático, afirma ter provado a existência de uma vida além da morte. Esse marco científico, longe de ser um alívio, desencadeia uma epidemia global de suicídios, com pessoas ansiosas para escapar da existência terrena e recomeçar do outro lado. McDowell constrói uma atmosfera densa e enigmática, potencializada pela fotografia de Sturla Brandth Grøvlen, que transforma cada cena em um espaço de desconforto. As imagens parecem envoltas em uma neblina que desacelera o tempo, criando um ambiente em que a realidade se mistura à ilusão.
A narrativa, embora centrada nas implicações da descoberta de Harbor, é também uma análise íntima de seus personagens. Will (Jason Segel), o filho do cientista, retorna à vida de seu pai carregando ressentimentos antigos. Seu encontro com Isla (Rooney Mara) em uma balsa que os leva à ilha onde Harbor realiza seus experimentos inicia uma relação marcada por desconfiança e cumplicidade velada. Isla, reservada e com um passado misterioso, personifica o conflito entre a vontade de acreditar e o medo de se entregar a uma verdade incômoda.
O filme não se limita a discussões científicas ou filosóficas; ele também aborda os laços familiares e os traumas que moldam nossos relacionamentos. Will e seu irmão Toby (Jesse Plemons), um entusiasta das teorias do pai, simbolizam visões antagônicas sobre o impacto da descoberta de Harbor. Enquanto Toby se entrega à causa com fervor, Will questiona a moralidade e as consequências de brincar com forças que ultrapassam a compreensão humana.
O roteiro, coescrito por McDowell e Justin Lader, equilibra elementos de ficção científica com um estudo profundo de personagens. Apesar disso, a trama não escapa de certas armadilhas do gênero, como diálogos que explicam demais ou a previsibilidade de alguns conflitos. Contudo, essas falhas são compensadas pela construção de um ambiente onde as fronteiras entre vida e morte, amor e arrependimento, são constantemente desafiadas.
O romance entre Will e Isla, embora subdesenvolvido, serve como contraponto à frieza científica que permeia a história. É um lembrete de que, mesmo diante de descobertas revolucionárias, são as conexões humanas que nos definem. Essa dualidade — entre o desejo de transcender e a necessidade de permanecer — está no coração de “The Discovery”.
Em sua essência, o filme questiona se realmente estamos prontos para enfrentar as respostas às perguntas que mais nos aterrorizam. Ao final, os personagens permanecem presos em um ciclo de busca e dúvida, como se a vida além da vida, prometida pela descoberta de Harbor, fosse apenas mais uma extensão do labirinto que habitamos.
Com uma narrativa que alterna momentos de introspecção e tensão, “The Discovery” não oferece soluções fáceis. Em vez disso, desafia o espectador a refletir sobre o significado da existência e os limites do conhecimento humano. Entre as sombras de sua trama e os ecos filosóficos de sua premissa, o filme nos lembra que, talvez, o verdadeiro mistério não esteja na morte, mas na vida que insistimos em desviar os olhos. Em um mundo marcado pela exaustão e pela busca incessante por respostas rápidas, muitas vezes ilusórias, poucos temas provocam tanta inquietação quanto a possibilidade de contornar a morte.
A ideia de transcender a finitude da vida é sedutora e perturbadora. No cinema, a morte sempre foi um terreno fértil para explorações narrativas. Desde os espectros apaixonados de “Ghost — Do Lado da Vida” (1990) até o ambiente claustrofóbico de “Os Outros” (2001), os filmes têm examinado a fragilidade humana diante do inevitável. Em “The Discovery” (2017), Charlie McDowell reinventa essa tradição ao explorar, de maneira sombria e reflexiva, os desdobramentos éticos e emocionais de uma suposta evidência científica da vida após a morte.
O filme inicia com uma revelação que abala os fundamentos da sociedade: o Dr. Thomas Harbor (Robert Redford), um cientista recluso e carismático, afirma ter provado a existência de uma vida além da morte. Esse marco científico, longe de ser um alívio, desencadeia uma epidemia global de suicídios, com pessoas ansiosas para escapar da existência terrena e recomeçar do outro lado. McDowell constrói uma atmosfera densa e enigmática, potencializada pela fotografia de Sturla Brandth Grøvlen, que transforma cada cena em um espaço de desconforto. As imagens parecem envoltas em uma neblina que desacelera o tempo, criando um ambiente em que a realidade se mistura à ilusão.
A narrativa, embora centrada nas implicações da descoberta de Harbor, é também uma análise íntima de seus personagens. Will (Jason Segel), o filho do cientista, retorna à vida de seu pai carregando ressentimentos antigos. Seu encontro com Isla (Rooney Mara) em uma balsa que os leva à ilha onde Harbor realiza seus experimentos inicia uma relação marcada por desconfiança e cumplicidade velada. Isla, reservada e com um passado misterioso, personifica o conflito entre a vontade de acreditar e o medo de se entregar a uma verdade incômoda.
O filme não se limita a discussões científicas ou filosóficas; ele também aborda os laços familiares e os traumas que moldam nossos relacionamentos. Will e seu irmão Toby (Jesse Plemons), um entusiasta das teorias do pai, simbolizam visões antagônicas sobre o impacto da descoberta de Harbor. Enquanto Toby se entrega à causa com fervor, Will questiona a moralidade e as consequências de brincar com forças que ultrapassam a compreensão humana.
O roteiro, coescrito por McDowell e Justin Lader, equilibra elementos de ficção científica com um estudo profundo de personagens. Apesar disso, a trama não escapa de certas armadilhas do gênero, como diálogos que explicam demais ou a previsibilidade de alguns conflitos. Contudo, essas falhas são compensadas pela construção de um ambiente onde as fronteiras entre vida e morte, amor e arrependimento, são constantemente desafiadas.
O romance entre Will e Isla, embora subdesenvolvido, serve como contraponto à frieza científica que permeia a história. É um lembrete de que, mesmo diante de descobertas revolucionárias, são as conexões humanas que nos definem. Essa dualidade — entre o desejo de transcender e a necessidade de permanecer — está no coração de “The Discovery”.
Em sua essência, o filme questiona se realmente estamos prontos para enfrentar as respostas às perguntas que mais nos aterrorizam. Ao final, os personagens permanecem presos em um ciclo de busca e dúvida, como se a vida além da vida, prometida pela descoberta de Harbor, fosse apenas mais uma extensão do labirinto que habitamos.
Com uma narrativa que alterna momentos de introspecção e tensão, “The Discovery” não oferece soluções fáceis. Em vez disso, desafia o espectador a refletir sobre o significado da existência e os limites do conhecimento humano. Entre as sombras de sua trama e os ecos filosóficos de sua premissa, o filme nos lembra que, talvez, o verdadeiro mistério não esteja na morte, mas na vida que insistimos em desviar os olhos.
★★★★★★★★★★