Aaron Sorkin, conhecido por sua habilidade em criar roteiros inteligentes e instigantes, atinge um novo patamar como cineasta em “Os 7 de Chicago”. O diretor, que já havia mostrado sua aptidão atrás das câmeras em “A Grande Jogada” (2017), une neste filme diálogos brilhantes e uma narrativa visual poderosa, consolidando sua maturidade artística. Com sucessos como “A Rede Social” e “Moneyball” em sua trajetória, Sorkin reafirma sua capacidade de transformar eventos históricos em experiências cinematográficas impactantes.
O roteiro, uma marca registrada de Sorkin, traz diálogos que transcendem o simples intercâmbio de palavras, explorando a complexidade dos personagens e suas circunstâncias. Essas trocas verbais, densas e repletas de significados, dão vida a ideias que geralmente permanecem subentendidas na realidade. Mais do que uma ferramenta narrativa, a linguagem aqui é uma forma de confronto, revelando dilemas éticos, políticos e emocionais que ressoam muito além do tribunal.
Ambientado em 1969, durante o julgamento de sete ativistas políticos acusados de conspiração e incitação à violência durante a Convenção Nacional Democrata de 1968, o filme retrata um dos episódios mais polêmicos da história judicial americana. O contexto político da época, com o governo Nixon buscando sufocar vozes contrárias à Guerra do Vietnã, serve como pano de fundo para uma análise crítica das engrenagens de um sistema judicial manipulável. Lançado em 2020, o longa ressoa fortemente com os debates contemporâneos sobre polarização política e justiça.
Sorkin não apenas narra os fatos históricos, mas os reinventa com um olhar incisivo, questionando as estruturas de poder que sustentam injustiças. A perseguição política aos ativistas, orquestrada de forma sistemática, é exposta em detalhes que mesclam drama e documentação, criando uma narrativa que mantém o espectador em constante estado de alerta.
O elenco de “Os 7 de Chicago” é uma de suas maiores forças. Eddie Redmayne encarna Tom Hayden, líder estudantil cuja postura ponderada contrasta com a irreverência provocadora de Abbie Hoffman, interpretado magistralmente por Sacha Baron Cohen. Jeremy Strong dá vida ao igualmente carismático Jerry Rubin, enquanto Yahya Abdul-Mateen II brilha como Bobby Seale, cuja exclusão flagrante do devido processo legal é um dos momentos mais impactantes do filme.
Frank Langella, no papel do juiz Julius Hoffman, simboliza a parcialidade e os abusos de poder que permeiam o sistema, enquanto Joseph Gordon-Levitt, como o promotor Richard Schultz, confere profundidade ao dilema moral de um homem dividido entre sua função e sua consciência. Sorkin equilibra o tom quase mítico atribuído aos réus com uma base documental sólida, assegurando que o drama nunca ofusque os fatos.
Disponível na Netflix, “Os 7 de Chicago” não é apenas uma obra sobre o passado, mas um espelho do presente. A narrativa expõe como injustiças históricas continuam a ecoar, desafiando-nos a questionar as estruturas de poder que moldam nossa sociedade. A coragem dos ativistas e as ameaças às liberdades democráticas apresentadas no filme são lembretes da necessidade de vigilância constante e resistência contra a opressão.
Mais do que um relato histórico, o longa é uma obra que inspira reflexão, conectando o espectador às lutas por igualdade e justiça que transcendem gerações. Aaron Sorkin entrega, com maestria, um filme que cativa pela profundidade e provoca pela relevância, marcando seu lugar como uma das narrativas cinematográficas mais importantes do século 21.
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