Nos últimos anos, três cineastas redefiniram o gênero do horror, transformando sustos momentâneos em narrativas profundas e provocativas. Jordan Peele, Ari Aster e Robert Eggers criaram obras que exploram as sombras da condição humana, revelando verdades inquietantes. Entre eles, Eggers se destaca como uma força criativa singular, moldando histórias que aliam precisão histórica a uma atmosfera sufocante de terror psicológico.
Eggers, atualmente com 40 anos, estreou em longa-metragens com “A Bruxa” (2015), uma obra inquietante que escapa aos clichês do gênero. Sua direção é tão precisa e segura que surpreende por vir de um iniciante. Desde então, ele solidificou sua reputação com os hipnotizantes “O Farol” e “O Homem do Norte”, consolidando-se como um dos nomes mais influentes do cinema contemporâneo.
Antes de se aventurar no cinema, Eggers trabalhou no teatro como designer de produção, experiência que moldou seu estilo visual inconfundível. Seus filmes são marcados por iluminação natural, diálogos arcaicos e uma atenção meticulosa à recriação histórica. Eggers mergulha em documentos e livros da época, utilizando essas referências não apenas para fundamentar seus roteiros, mas também para compor uma ambientação genuína e convincente.
Em “A Bruxa”, Eggers transporta o espectador para a Nova Inglaterra de 1630. A trama acompanha uma família profundamente religiosa que, ao ser exilada de sua comunidade, tenta sobreviver em uma fazenda isolada próxima a uma floresta. O patriarca William (Ralph Ineson) e sua esposa Katherine (Kate Dickie) têm cinco filhos: a adolescente Thomasin (Anya Taylor-Joy), Caleb (Harvey Scrimshaw), os gêmeos Mercy e Jonas (Ellie Grainger e Lucas Dawson), e um bebê.
A paz da família é abalada quando o bebê desaparece misteriosamente sob os cuidados de Thomasin. A partir daí, eventos estranhos e perturbadores se intensificam. Os gêmeos parecem conversar com o bode da fazenda, Caleb se perde na floresta e reaparece gravemente doente, e os animais mostram comportamentos inexplicáveis. Sob o peso do puritanismo, os pais começam a suspeitar que Thomasin seja uma bruxa, alimentando paranoia e acusações.
Eggers conduz a narrativa com maestria, deixando o espectador questionar o que é real e o que é alucinação. A rigidez religiosa e o isolamento intensificam a loucura coletiva da família, criando um clima de paranoia e histeria. Nesse contexto, Thomasin se torna um alvo fácil: como uma jovem em transformação, seu despertar sexual é percebido como uma ameaça. A figura feminina, especialmente quando foge ao controle patriarcal, é rapidamente associada ao mal.
Sem recorrer a monstros explícitos ou sustos baratos, Eggers constrói um horror psicológico que prende pela iminência do desastre. A tensão é constante, não pelo que se vê, mas pelo que se imagina. “A Bruxa” é mais do que um filme de terror; é um estudo sobre medo, repressão e as fragilidades humanas. Com ele, Eggers não apenas lançou sua carreira, mas também entregou uma das obras mais marcantes do gênero nos últimos anos, um verdadeiro marco no cinema moderno.
★★★★★★★★★★