Um Ford Galaxy creme arde na sequência inicial de “Mulheres do Século 20”, carregando consigo as cinzas de uma era já distante — menos turva, talvez até mais ingênua. Neste terceiro longa-metragem de Mike Mills, a vida de uma mulher e seu filho único se desenrola com uma honestidade quase desconcertante. Ambos, ainda lidando com a ausência de uma figura paterna, encontram na imprevisibilidade da existência o motor para novas histórias e desafios que, como sempre, chegam sem convite.
Mills, que assina roteiro e direção, demonstra um domínio raro na construção de diálogos, esculpidos para se encaixarem de forma orgânica e única em cada personagem. Essa maestria cria uma sensação quase palpável de realidade: as figuras que habitam a tela transcendem a ficção, ressoando como fragmentos da humanidade, com conflitos tão únicos quanto universais.
No centro da narrativa está Dorothea Fields, uma mulher moldada pela desesperança da Grande Depressão. Os filhos daquela era carregavam o peso de uma crise que parecia interminável, e Dorothea, agora com 55 anos e mãe solteira, exemplifica essa herança de resiliência e inquietação. Vivendo na pequena Santa Bárbara dos anos 1980, ela tenta, à sua maneira, criar Jamie, um adolescente de 15 anos, enfrentando o julgamento constante de uma sociedade que ainda via sua situação como algo atípico.
Annette Bening entrega uma performance impecável, traduzindo com nuances a complexidade de Dorothea. Seja nos momentos de introspecção, enquanto observa seus interlocutores, ou nos raros instantes de vulnerabilidade, a atriz captura a essência de uma mulher em constante batalha interna. Dorothea organiza jantares para amigos e conhecidos — incluindo bombeiros que salvaram seu carro —, criando um mosaico de relações marcadas tanto pela solidariedade quanto pelo desconforto.
A casa de Dorothea, um espaço quase metafórico, abriga também Abbie (Greta Gerwig), uma fotógrafa punk em recuperação de um câncer, e William (Billy Crudup), um faz-tudo hippie que transita entre o passado e o presente com uma serenidade quase desajustada. O elenco é complementado por Elle Fanning, cuja Julie, amiga de infância de Jamie, invade as noites do garoto com uma inquietação que reflete seus próprios traumas familiares. Esses encontros furtivos não têm caráter romântico; são antes um reflexo das fissuras emocionais de ambos.
Se em “Toda Forma de Amor” (2011) Mills explorava sua relação com o pai, em “Mulheres do Século 20”, ele revisita a figura materna. Mas vai além da autobiografia, criando um retrato multifacetado das mulheres que moldaram gerações. Jamie, interpretado por Lucas Jade Zumann, simboliza uma juventude que, apesar de protegida, tenta navegar pelas complexidades do universo feminino ao seu redor — de Julie a Dorothea, passando por Abbie.
O filme não é apenas sobre a jornada de Jamie ou sobre a força de suas personagens femininas. É um testemunho sobre a condição humana, suas contradições e beleza inerente. As mulheres de Mills são ao mesmo tempo fortes e frágeis, autossuficientes e românticas, num paradoxo que atravessa gerações. Mais do que uma celebração, “Mulheres do Século 20” é uma reflexão atemporal sobre a vida, o amor e a constante reinvenção que nos conecta, século após século.
Um Ford Galaxy creme arde na sequência inicial de “Mulheres do Século 20”, carregando consigo as cinzas de uma era já distante — menos turva, talvez até mais ingênua. Neste terceiro longa-metragem de Mike Mills, a vida de uma mulher e seu filho único se desenrola com uma honestidade quase desconcertante. Ambos, ainda lidando com a ausência de uma figura paterna, encontram na imprevisibilidade da existência o motor para novas histórias e desafios que, como sempre, chegam sem convite.
Mills, que assina roteiro e direção, demonstra um domínio raro na construção de diálogos, esculpidos para se encaixarem de forma orgânica e única em cada personagem. Essa maestria cria uma sensação quase palpável de realidade: as figuras que habitam a tela transcendem a ficção, ressoando como fragmentos da humanidade, com conflitos tão únicos quanto universais.
No centro da narrativa está Dorothea Fields, uma mulher moldada pela desesperança da Grande Depressão. Os filhos daquela era carregavam o peso de uma crise que parecia interminável, e Dorothea, agora com 55 anos e mãe solteira, exemplifica essa herança de resiliência e inquietação. Vivendo na pequena Santa Bárbara dos anos 1980, ela tenta, à sua maneira, criar Jamie, um adolescente de 15 anos, enfrentando o julgamento constante de uma sociedade que ainda via sua situação como algo atípico.
Annette Bening entrega uma performance impecável, traduzindo com nuances a complexidade de Dorothea. Seja nos momentos de introspecção, enquanto observa seus interlocutores, ou nos raros instantes de vulnerabilidade, a atriz captura a essência de uma mulher em constante batalha interna. Dorothea organiza jantares para amigos e conhecidos — incluindo bombeiros que salvaram seu carro —, criando um mosaico de relações marcadas tanto pela solidariedade quanto pelo desconforto.
A casa de Dorothea, um espaço quase metafórico, abriga também Abbie (Greta Gerwig), uma fotógrafa punk em recuperação de um câncer, e William (Billy Crudup), um faz-tudo hippie que transita entre o passado e o presente com uma serenidade quase desajustada. O elenco é complementado por Elle Fanning, cuja Julie, amiga de infância de Jamie, invade as noites do garoto com uma inquietação que reflete seus próprios traumas familiares. Esses encontros furtivos não têm caráter romântico; são antes um reflexo das fissuras emocionais de ambos.
Se em “Toda Forma de Amor” (2011) Mills explorava sua relação com o pai, em “Mulheres do Século 20”, ele revisita a figura materna. Mas vai além da autobiografia, criando um retrato multifacetado das mulheres que moldaram gerações. Jamie, interpretado por Lucas Jade Zumann, simboliza uma juventude que, apesar de protegida, tenta navegar pelas complexidades do universo feminino ao seu redor — de Julie a Dorothea, passando por Abbie.
O filme não é apenas sobre a jornada de Jamie ou sobre a força de suas personagens femininas. É um testemunho sobre a condição humana, suas contradições e beleza inerente. As mulheres de Mills são ao mesmo tempo fortes e frágeis, autossuficientes e românticas, num paradoxo que atravessa gerações. Mais do que uma celebração, “Mulheres do Século 20” é uma reflexão atemporal sobre a vida, o amor e a constante reinvenção que nos conecta, século após século.
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