Filme francês baseado em obra famosa do Iluminismo, clássico inspirado em Diderot está na Netflix Pascal Chantier / Arte France Cinéma

Filme francês baseado em obra famosa do Iluminismo, clássico inspirado em Diderot está na Netflix

Miguel de Unamuno, notável ensaísta espanhol, afirmou certa vez que a vida é, acima de tudo, um processo de esquecimento. Em meio a esse mar de memórias, cabe a nós decidir o que preservar e o que relegar ao esquecimento, uma escolha que molda quem somos e como nos situamos no mundo. Inspirado livremente em “Jacques, o Fatalista, e Seu Amo” (1778), obra-prima do iluminista Denis Diderot, o cineasta francês Emmanuel Mouret explora as complexidades de uma mulher à frente de seu tempo em “Mademoiselle Vingança”. Ambientado no século 18, o filme disseca uma sociedade onde conceitos como liberdade e empoderamento feminino eram considerados devaneios, traçando a trajetória de uma protagonista que ousa romper com as amarras de um mundo projetado para mantê-la submissa. 

A trama, uma fábula sobre os jogos emocionais de uma aristocracia entediada, dialoga diretamente com as intrigas de “Ligações Perigosas” (1782), clássico de Choderlos de Laclos. As similaridades não são fortuitas: ambas as narrativas expõem a hipocrisia de uma elite que mascara sua brutalidade com seda e ornamentos opulentos. Anne Bochon, responsável pelo figurino de “Mademoiselle Vingança”, recria com precisão a moda da época, adicionando uma camada visual que intensifica a verossimilhança histórica. Em uma era sem as distrações das redes sociais, as traições e conspirações entre nobres eram o entretenimento de maior apelo, uma tradição literária que transcendeu séculos e se reinventou em adaptações como “Segundas Intenções” (1999) e “Justiceiras” (2022). 

No centro da narrativa está Madame de La Pommeraye, interpretada com maestria por Cécile de France. Viúva abastada, ela vive isolada em sua propriedade rural, um refúgio que simboliza tanto proteção quanto solidão. Escaldada por decepções amorosas, resiste aos avanços do marquês d’Arcis, vivido por Edouard Baer, cuja habilidade em manipular as vulnerabilidades alheias evoca personagens icônicos da literatura como Sébastien Valmont. A construção dos personagens é precisa: Baer encarna com naturalidade o charme predatório de um casanova, enquanto De France transita com elegância entre a reserva emocional e a vulnerabilidade, compondo uma mulher multifacetada e profundamente humana.

O desenrolar da história traz à tona um elenco de apoio que enriquece ainda mais a narrativa. Natalia Dontcheva brilha como Madame de Joncquieres, uma mulher outrora respeitável, mas arruinada por um romance que terminou em abandono e desgraça. Sua filha, Mademoiselle de Joncquieres, interpretada pela carismática Alice Isaaz, assume um papel central nos eventos que culminam no desfecho da trama, justificando o título alternativo do filme no mercado internacional. Mouret constrói uma conclusão que não apenas amarra as pontas soltas, mas reafirma a relevância de temas universais, como vingança, redenção e os limites da moralidade.

Ainda que alguns críticos apressados aleguem que histórias desse tipo “envelheceram mal”, a atualidade dos temas tratados refuta essas afirmações. No jogo eterno das relações humanas, o filme encontra eco em nosso presente, lembrando-nos de que, mesmo envoltos em novas tecnologias, as intrigas e complexidades do coração permanecem intemporais. “Mademoiselle Vingança” é um testamento do poder da ficção em transcender eras, entregando uma narrativa que é ao mesmo tempo um retrato de sua época e um espelho para a nossa. 

Miguel de Unamuno, notável ensaísta espanhol, afirmou certa vez que a vida é, acima de tudo, um processo de esquecimento. Em meio a esse mar de memórias, cabe a nós decidir o que preservar e o que relegar ao esquecimento, uma escolha que molda quem somos e como nos situamos no mundo. Inspirado livremente em “Jacques, o Fatalista, e Seu Amo” (1778), obra-prima do iluminista Denis Diderot, o cineasta francês Emmanuel Mouret explora as complexidades de uma mulher à frente de seu tempo em “Mademoiselle Vingança”. Ambientado no século 18, o filme disseca uma sociedade onde conceitos como liberdade e empoderamento feminino eram considerados devaneios, traçando a trajetória de uma protagonista que ousa romper com as amarras de um mundo projetado para mantê-la submissa. 

A trama, uma fábula sobre os jogos emocionais de uma aristocracia entediada, dialoga diretamente com as intrigas de “Ligações Perigosas” (1782), clássico de Choderlos de Laclos. As similaridades não são fortuitas: ambas as narrativas expõem a hipocrisia de uma elite que mascara sua brutalidade com seda e ornamentos opulentos. Anne Bochon, responsável pelo figurino de “Mademoiselle Vingança”, recria com precisão a moda da época, adicionando uma camada visual que intensifica a verossimilhança histórica. Em uma era sem as distrações das redes sociais, as traições e conspirações entre nobres eram o entretenimento de maior apelo, uma tradição literária que transcendeu séculos e se reinventou em adaptações como “Segundas Intenções” (1999) e “Justiceiras” (2022). 

No centro da narrativa está Madame de La Pommeraye, interpretada com maestria por Cécile de France. Viúva abastada, ela vive isolada em sua propriedade rural, um refúgio que simboliza tanto proteção quanto solidão. Escaldada por decepções amorosas, resiste aos avanços do marquês d’Arcis, vivido por Edouard Baer, cuja habilidade em manipular as vulnerabilidades alheias evoca personagens icônicos da literatura como Sébastien Valmont. A construção dos personagens é precisa: Baer encarna com naturalidade o charme predatório de um casanova, enquanto De France transita com elegância entre a reserva emocional e a vulnerabilidade, compondo uma mulher multifacetada e profundamente humana.

O desenrolar da história traz à tona um elenco de apoio que enriquece ainda mais a narrativa. Natalia Dontcheva brilha como Madame de Joncquieres, uma mulher outrora respeitável, mas arruinada por um romance que terminou em abandono e desgraça. Sua filha, Mademoiselle de Joncquieres, interpretada pela carismática Alice Isaaz, assume um papel central nos eventos que culminam no desfecho da trama, justificando o título alternativo do filme no mercado internacional. Mouret constrói uma conclusão que não apenas amarra as pontas soltas, mas reafirma a relevância de temas universais, como vingança, redenção e os limites da moralidade.

Ainda que alguns críticos apressados aleguem que histórias desse tipo “envelheceram mal”, a atualidade dos temas tratados refuta essas afirmações. No jogo eterno das relações humanas, o filme encontra eco em nosso presente, lembrando-nos de que, mesmo envoltos em novas tecnologias, as intrigas e complexidades do coração permanecem intemporais. “Mademoiselle Vingança” é um testamento do poder da ficção em transcender eras, entregando uma narrativa que é ao mesmo tempo um retrato de sua época e um espelho para a nossa. 

Filme: Mademoiselle Vingança
Diretor: Emmanuel Mouret
Ano: 2018
Gênero: Drama/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★