“Maudie: Sua Vida e Sua Arte”, dirigido pela veterana Aisling Walsh e roteirizado por Sherry White, revela com sutileza e vigor a jornada extraordinária de Maud Lewis, uma pintora canadense que superou limitações com uma resiliência admirável. Em plena década de 1930, entre os cenários gélidos e bucólicos da Nova Escócia, a história se desenrola através da perspectiva de Maud Dowley (Sally Hawkins), uma mulher cujas mãos deformadas pela artrite reumatoide não foram capazes de limitar sua criatividade vibrante e sua sede de autonomia.
Forçada a viver sob a tutela de sua tia Ida (Gabrielle Rose) após perder os pais e ver seu irmão (Zachary Bennett) leiloar a casa de infância para sanar dívidas, Maud enfrenta a desconfiança e o desprezo daqueles que a consideram infantilizada e incapaz. Apesar disso, sua lucidez e determinação permanecem intactas. Decidida a reconquistar um pouco de dignidade, ela responde a um anúncio para trabalhar como faxineira na casa de Everett Lewis (Ethan Hawke), um pescador rústico e de temperamento áspero. Sua primeira experiência é marcada pelo choque entre duas naturezas opostas: enquanto Everett é rígido e distante, Maud traz consigo uma delicadeza que parece fora de lugar naquele ambiente hostil.
Despedida no primeiro dia, Maud não desiste e, ao amanhecer seguinte, retorna espontaneamente à casa de Everett, com o chá preparado e o chão reluzindo de limpo. Intrigado por sua insistência silenciosa, Everett permite que ela fique. Aos poucos, o espaço antes austero ganha vida com pinceladas de cores e flores que se espalham pelos móveis, paredes e vidraças. Essa arte intuitiva não apenas decora, mas também transforma a atmosfera da casa. Everett, relutante em admitir qualquer afeto, aceita as mudanças contanto que suas botas permaneçam intocadas.
Com o passar dos dias, a relação entre os dois deixa de ser apenas profissional. Uma intimidade singela e complexa se desenha entre Maud e Everett, dois solitários que, por acaso ou destino, encontram uma forma peculiar de companhia. Apesar de suas palavras duras e da resistência em formalizar o casamento por considerá-lo um gasto desnecessário, Everett revela seu amor através de pequenos gestos: instala a tão desejada porta de tela e assume as tarefas domésticas para que Maud possa se dedicar à pintura.
O passado de Maud, marcado pela perda de uma filha, é uma sombra que se revela a Everett, que reage com silêncio e compaixão contidas. Mesmo assim, ele a fere com palavras que refletem sua própria dificuldade de expressar amor. Contudo, por trás de sua aspereza, seus atos falam mais alto que suas falhas verbais.
À medida que os quadros de Maud conquistam reconhecimento, sua pequena casa se torna um ponto de referência para admiradores de sua arte singela e colorida. Mesmo diante do sucesso, Maud permanece fiel à simplicidade de sua vida e à parceria inusitada que construiu com Everett. Juntos, eles compartilham uma existência modesta, mas repleta de significado.
Com atuações brilhantes de Sally Hawkins e Ethan Hawke, “Maudie” emociona não apenas pela história inspiradora de superação, mas pela delicada exploração das formas silenciosas de amor e compaixão. Ao fim, é inevitável sentir que a verdadeira arte de Maud não estava apenas em seus quadros, mas em sua capacidade de encontrar beleza e esperança onde menos se espera.
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