Se você acha que já viu de tudo, este faroeste na Netflix, indicado por Tarantino, vai te surpreender Divulgação / Universal Pictures

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Em “Inferno no Faroeste”, Roel Reiné conduz o espectador a um universo onde a lógica é substituída por um nonsense envolvente e implacável. Neste faroeste repleto de elementos trash, um fora da lei, Guerrero, vê-se traído e brutalmente assassinado por seus próprios capangas, sob o comando de Red Cavanaugh, seu meio-irmão e eterno desafeto. O destino de Guerrero parecia ser o sofrimento eterno, mas até o diabo se compadece dessa alma dilacerada, oferecendo-lhe uma última chance para se vingar.

O roteiro de Brendan Cowles e Shane Kuhn distribui a narrativa entre os salões de Tombstone e o próprio submundo infernal. As cenas de ação, orquestradas com uma violência visceral e sem efeitos de computação gráfica, se destacam pela coreografia meticulosa e explosões cruas. Mesmo quem não é fã do gênero acaba fisgado pela direção segura de Reiné, que mistura estética grotesca com a intensidade dos clássicos bangue-bangues.

Após ser morto e renascer com poderes sombrios, Guerrero embarca numa caçada frenética por Red. A rivalidade entre os irmãos ganha contornos mais complexos: Guerrero, mestiço e marginalizado, contrasta com Red, branco, influente e ressentido. Ambos filhos de uma prostituta, eles representam facetas opostas de uma mesma origem, separados pela exclusão social. Reiné transforma essa rixa familiar em uma reflexão amarga sobre rejeição e desejo de reparação, costurando a trama com elementos de redenção e loucura.

A direção imprime uma marca visual inconfundível. O inferno de Reiné é sombrio, árido e repleto de simbolismo — um forno colossal onde os condenados queimam eternamente e uma cadeira de tortura, em que o diabo deixa sua assinatura em brasa. Mickey Rourke, no papel do anfitrião infernal, encarna essa figura com maestria, remanescente de seu renascimento em “O Lutador”. Danny Trejo e Anthony Michael Hall reforçam o elenco com personagens grotescos e repulsivos, elevando o nível de decadência moral da narrativa.

Mais do que uma simples história de vingança, “Inferno no Faroeste” é uma carta de amor aos filmes de faroeste que Reiné assistia na infância na Holanda. Sua paixão pelo gênero se reflete em cada frame, carregado de exagero, ironia e reverência. Através dessa abordagem autoral e inusitada, o diretor transforma o nonsense em poesia visual, oferecendo ao público uma experiência tão brutal quanto fascinante.

Filme: Inferno no Faroeste
Diretor: Roel Reiné
Ano: 2013
Gênero: Faroeste/Terror
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★