Há sempre um elemento de sátira sociopolítica em filmes que denunciam as mazelas do que pode vir a se tornar a vida na Terra num prazo que talvez nem seja assim tão longo, e “Transformers: A Era da Extinção” confirma a tendência. Robôs espaciais gigantes estão aprisionados na Terra, e, enquanto não conseguem voltar para a esquina cósmica de onde saíram, deparam-se com outros alienígenas, esse, sim, verdadeiramente perigosos. Eles servem a um deus tão perverso e tão grande que arrasa planetas inteiros para manter-se vivo.
A franquia, já cheia de possibilidades doutrinárias por si só, torna-se ainda mais ideológica nas mãos de Michael Bay, o diretor que tornou populares essas histórias e o primeiro nome a vir à cabeça quando se pensa em veículos que adquirem a forma de gigantescas estruturas autômatas e vice-versa, prontos para se engajar numa batalha mais e mais encarniçada por poder e subjugação. Aqui, Bay vale-se do roteiro de Ehren Kruger e continua a aplicar o que dera certo nos longas anteriores, contando sempre com a afinação do elenco.
Os filmes de Bay atribuem a criaturas extraterrenas o destino do homem, e assim, convenhamos, é grande a tentação de se pensar que o melhor seja mesmo entregar nossos destinos nas mãos de máquinas que criamos, mas que nunca iremos conhecer, e nesse intervalo quanto retrocesso não cabe a favor dessas estruturas antes ridiculamente diminutas, aumentando de tamanho de peso e tamanho como se emulassem nosso desenvolvimento? Ninguém exige de tramas de ficção científica que se tolha a criatividade do texto de Kruger a fim de acomodar todas as reivindicações de cunho lógico de um público que vai amá-las desde o início e, por óbvio, comprar a ideia, qualquer que seja.
Aqui, o diretor pincela de humor sobretudo as cenas que não são protagonizadas pelos robôs, fazendo um retrospecto pelo que já aconteceu ao longo dos sete anos anteriores. Este talvez seja o mais afetivo desses contos acerca da tecnologia colérica que avança sobre o gênero humano, e a figura de Mark Wahlberg como Cade Yeager, um inventor do Texas, viúvo e em dificuldades com a bela filha adolescente, corrobora tal sensação, decerto o que mais diverte em quase três horas.
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