Dificilmente se pode negar que “Céu Vermelho-Sangue”, de Peter Thorwarth, é um filme que destila ousadia. Imagine uma fusão entre o grotesco de “Hellraiser — Renascido do Inferno” (1987), dirigido por Clive Barker, e a urgência claustrofóbica de “Voo United 93” (2006), de Paul Greengrass. O longa alemão propõe uma nova faceta do terror, ecoando a subversão introduzida por Yeon Sang-ho em “Invasão Zumbi” (2016). Neste caso, a relação frágil e enigmática entre uma mãe e seu filho se torna o epicentro de um thriller sombrio, onde o sobrenatural não apenas habita, mas também desafia os limites da condição humana.
Logo de início, o público descobre que Nadja (Peri Baumeister) e seu filho, Elias (Carl Anton Koch), estão a bordo de um avião sequestrado por terroristas fundamentalistas islâmicos. A situação parece totalmente sob controle dos criminosos, até que um segredo bem guardado de Nadja vem à tona. Thorwarth apresenta a protagonista como uma mulher aparentemente frágil, presa em uma rotina de medicamentos para conter uma “enfermidade”. Contudo, quando a tensão do sequestro atinge o limite, a fera que ela escondia — uma vampira implacável — emerge para proteger seu filho a qualquer custo.
O que faz “Céu Vermelho-Sangue” decolar é a disposição em abraçar o absurdo. Quando Nadja abandona seus escrúpulos e assume sua natureza monstruosa, a narrativa atinge um clímax alucinante. O verdadeiro terror não está apenas nos terrores humanos do sequestro, mas na revelação da monstruosidade interior, com a mãe-vampira travando batalhas brutais em um espaço confinado. Elias, por sua vez, demonstra uma maturidade notável ao aceitar a verdadeira identidade da mãe e distinguir os verdadeiros vilões da história.
A conexão entre Peri Baumeister e Carl Anton Koch é palpável, transmitindo uma relação materna que, mesmo em meio ao caos e à claustrofobia, se torna tocante. O personagem Farid (Kais Setti) se junta ao duo de forma inesperada, e a relação entre os três cresce de maneira natural e surpreendente.
Thorwarth, consciente dos limites de sua obra, evita se aprofundar em debates políticos complexos. Ele prefere deixar o tema da deturpação violenta do islamismo para diretores como Greengrass, concentrando-se em aspectos sobrenaturais e grotescos. Nadja, com suas semelhanças com Pinhead, do universo de Clive Barker, é uma personagem atormentada por um passado irrecuperável, mas determinada a redimir sua existência pela sobrevivência do filho.
A narrativa surpreende em seu desfecho, ao sugerir uma nuance apocalíptica que estava latente o tempo todo. A imagem de Elias, entregue ao cuidado de Farid após a perda da mãe, traz uma camada emocional inesperada, insinuando que a verdadeira monstruosidade reside na injustiça e na intolerância humanas.
Sem grandes pretensões, “Céu Vermelho-Sangue” alcança alturas inesperadas ao equilibrar o horror com um drama humano visceral.
★★★★★★★★★★