Com atuação fantástica de Cate Blanchett, faroeste com Tommy Lee Jones chegou recentemente à Netflix Divulgação / Columbia Pictures

Com atuação fantástica de Cate Blanchett, faroeste com Tommy Lee Jones chegou recentemente à Netflix

Uma nação se constrói sobre homens e mitos, e nos Estados Unidos do século 19, o Velho Oeste foi o cenário ideal para a criação de figuras que desafiavam os limites da lei. Esses personagens, movidos por um código próprio de retaliação e sobrevivência, tornaram-se símbolos de uma era onde instintos primitivos e coragem bruta moldavam a reputação. Eles eram tanto temidos quanto venerados, transformando suas ações em lendas que atravessaram gerações.

Em “Desaparecidas”, Ron Howard se insere no panteão de diretores que exploraram o faroeste americano, ao lado de nomes como John Sturges, Sergio Leone e Lawrence Kasdan. Baseado no romance “The Last Ride” (1995), de Thomas Eidson, o filme subverte algumas convenções clássicas do gênero ao colocar no centro da trama Magdalena “Maggie” Gilkeson, interpretada por Cate Blanchett. Maggie, uma curandeira independente, administra seu rancho no Novo México e cuida sozinha de suas duas filhas, resolvendo seus problemas com determinação e sem precisar de nenhum homem. Contudo, essa independência é colocada à prova quando uma crise familiar exige a intervenção de uma figura inesperada: seu pai, Samuel Jones, vivido por Tommy Lee Jones.

O roteiro de Ken Kaufman ensaia um choque inicial ao apresentar Maggie como protagonista de um faroeste fora dos padrões tradicionais, mas logo cede à necessidade de trazer Samuel de volta à vida de sua filha. O reencontro é catalisado por um ataque de apaches que sequestram Lilly, a filha mais velha de Maggie, e matam Brake Baldwin (Aaron Eckhart), o interesse amoroso discreto da protagonista. Samuel, que havia abandonado a família anos antes para viver entre indígenas, retorna em um momento de desespero. Embora relutante, Maggie aceita sua ajuda, dando início a uma jornada de resgate que também funciona como uma reconciliação emocional entre pai e filha.

Howard equilibra as cenas de ação com uma construção dramática cuidadosa, priorizando a lenta reconexão entre Maggie e Samuel. Jenna Boyd, como Dot, a filha caçula, desempenha um papel chave ao humanizar os conflitos familiares. Enquanto isso, Tommy Lee Jones explora a complexidade moral de Samuel, um homem marcado por escolhas passadas e uma tentativa de redenção tardia. Cate Blanchett, por sua vez, conduz Maggie com nuances que gradualmente revelam as camadas de sua resistência emocional.

Embora “Desaparecidas” ofereça tiroteios e confrontos físicos característicos do gênero, seu núcleo reside nos dramas interpessoais e nos dilemas éticos que moldam os personagens. No entanto, o filme tropeça ao tentar justificar as “razões do coração” que guiam suas decisões, deixando algumas motivações pouco claras. Ainda assim, a narrativa se sustenta pela força dos diálogos, pela ambientação autêntica e pela complexidade das relações humanas em uma época marcada pela brutalidade e pela ausência de espaço para fraquezas.

“Desaparecidas” é uma exploração tanto da fragilidade quanto da força dos laços familiares, envolta no pano de fundo implacável de um faroeste onde a sobrevivência exige mais que habilidade com armas — ela demanda reconciliação com o passado.

Filme: Desaparecidas
Diretor: Ron Howard
Ano: 2003
Gênero: Drama/Faroeste
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★